sexta-feira, março 31, 2006

Portugal no seu melhor: para que conste

No ano 2004 o facto de o governo apresentar 3% de déficit das contas públicas foi um escândalo nacional.

Apresentar no ano de 2005 o dobro é considerado normal.

Normal, porque há a promessa de em 2006 ser apenas 4,5%.

quarta-feira, março 29, 2006

Ainda o mal francês

Extraordinário. Uma pesquisa de opinião publicada sábado 25 de Março de 2006 no jornal Le Figaro, revela que 50% dos franceses não acreditam na economia de mercado. Na China comunista essa percentagem não ultrapassa os 20%.

segunda-feira, março 27, 2006

Meia Maratona de Lisboa - 2006

Realizou-se no Domingo. As televisões estiveram lá, atentas como sempre.

Entrevistaram Sampaio, Sócrates, e filmaram ministros. Tudo a correr como manda a lei.

Perguntei a um amigo, velho veterano de maratonas: - Então viste o Sampaio e o Sócrates a correr?

-É tudo uma aldrabice! É só para a fotografia! Os gajos só correram alguns minutos e depois foram-se embora!

Os jornalistas portugueses tem uma missão a cumprir que não é necessáriamente a de informar, mas antes e primeiro que tudo, a de educar o povo. Toda a gente sabe que o povo precisa de fazer ginástica, correr, e os seus dirigentes tem que dar o exemplo. Se o exemplo é falso não interessa. Os jornalistas são gente informada, até sabem ler, que é algo que a maioria dos seus ascendentes não sabia fazer, e simplesmente por esse motivo têm uma missão a cumprir: educar o povo. Que interessa a verdade se uma pequena mentira satisfaz o bem comum?

A diferença entre jornalismo e propaganda é realmente muito tenue...

sexta-feira, março 24, 2006

O Islão é uma religião pacífica

No Afganistão o Sr. Abdur Rahman decidiu converter-se à religião católica. Foi preso por isso e a punição é a pena de morte.

A isso obriga a sharia, lei do Islão, adoptada pelos afgãos.

O Sr. Rahman tem quarenta anos e idade para ter juizo, por isso não há desculpa.

Pode ser que se safe se se conseguir alegar insanidade do réu.

quinta-feira, março 23, 2006

A vitória do Capitalismo

Como modelo de organização da sociedade, o triunfo do Capitalismo pode ser medido pelo sucesso de uma das sua actividades mais incongruentes: o negócio do anti-capitalismo.

O anti-capitalismo é um nicho de mercado próprio que se transformou num negócio florescente, desde que começou a ser administrado como negócio à maneira capitalista.

Noam Chomsky, um dos ícones mais sagrados do activismo de esquerda mundial, um crítico feroz da socidade capitalista, e do seu próprio país, os Estados Unidos da América, é um capitalista de enorme sucesso. Portador de uma carteira de títulos de invejável sucesso bolsista, ainda que, hum, não recomendáveis para um esquerdista, como armamento, petróleo e farmaceuticas, acaba de criar um Trust para gerir os lucros da sua actividade anti-capitalista, e transformou-se numa marca registada. De obscuro linguista e professor do MIT, passou pela sua actividade recente a viver das receitas de centenas de palestras que profere por ano, e dos livros que publica e que vende instantâneamente no mercado livreiro, com resumos das suas palestras. Como bom capitalista que é, aumentou os seus fees por palestra de 9.000 para 12.000 dólares, logo a seguir ao 11 de Setembro porque percebeu que com a procura de um crítico que responsabilizasse o capitalismo em geral e os Estados Unidos em particular por esse acontecimento, tinha nas mãos um mercado com crescimento assegurado. O reporter Peter Schweizer do National Post declara ter pago até para o entrevistar. Vale a pena ler o artigo.

O galego Ignácio Ramonet, que se intitula especialista em geopolítica, fundador da Associação Attac, é para além de Director do mensal Monde Diplomatique (M.D.), um dos seus principais accionistas através da Associação dos Amigos do Monde Diplomatique (25% do M.D.) e Association Gunter Holzmann (24% do M.D.) que controla. Para os mais desatentos o Monde Diplomatique é o refúgio intelectual da esquerda europeia. Fez do seu core business a crítica do capitalismo e do modo de vida ocidental, e pode-se afirmar que como jornal desapareceria se abandonasse esse nicho de mercado, mas ao contrário do seu pai pobre, o diário Le Monde (51% do M.D.), que tem de se preocupar com uma comunidade de leitores crítica e heterogénia, ainda que de esquerda, o Monde Diplomatique é um jornal de sucesso, porque quem o lê já sabe ao que é que vai.

Já vão longe os tempos e que Zeca Afonso carpia os males do capitalismo (eles comem tudo...), vivendo do seu salário de professor. O seu émulo moderno Pedro Abrunhosa, não tem vergonha de emprestar o seu nome e a sua imagem a uma campanha do BCP que entra pelas nossas casas pela TV e rádio a todos os instantes. Poucos o conseguem copiar, não porque não tenham o seu talento, mas apenas porque não conseguem montar uma operação de marketing com o mesmo sucesso.

terça-feira, março 21, 2006

Mitos Climáticos, e outros mitos

Mitos Climáticos é o nome de um blog cuja leitura se recomenda. O autor queixa-se várias vezes do parti pris do jornal O Público onde sistemáticamente são escondidas notícias que contrariem as ideias pré-concebidas de alguns "jornalistas" (sou obrigado a pôr entre aspas) que escrevem sobre o clima.

Os mitos sobre a terra são matéria antiga.

Só neste século, que me lembre agora, tivemos nos anos sessenta o mito da explosão populacional com fome generalizada, (lembro-me do Relatório do Clube de Roma, e até a ONU - com a UNESCO, publicou milhares de "estudos" sobre o assunto, alguns dos quais eu cuidadosamente arquivei, para só os destruir há bem pouco tempo), nos anos setenta o mito das chuvas ácidas e o do fim das florestas, nos anos noventa o mito do empobrecimento geral e do fim da prosperidade do planeta. Agora estamos na fase do aquecimento global e o efeito de estufa. Outros mitos virão.

A verdade é de que estamos a viver desde a Revolução Industrial uma prosperidade geral sem precedentes, e se ainda subsistem muitos focos de problemas, estamos globalmente com mais saúde, mais tempos livres, mais riqueza, mais consumo, mais segurança, menos catástrofes, como diz muito bem o professor Bjoern Lomborg no seu livro tão contestado e tão pouco lido, (até porque são 515 páginas de letra muito pequena) The Skeptical Environmentalist - Measuring The Real State of The World, (ed. Cambridge University Press, 2001). Um livro imprescindível para quem quiser formar opinião sobre estes assuntos.

domingo, março 12, 2006

Um espectro ameaça a Europa: o populismo

Hugo Chavez seria apenas mais um miserável populista não fora o petróleo. É desculpado no ocidente porque não é políticamente correcto criticar um pobre coitado, em quem num longínquo país de selvagens, tantos desgraçados depositam as suas esperanças, e que, para muitos de nós, consegue manter acesa a chama da utopia socialista . Se o homem ao mesmo tempo nos assegura que a torneira do petróleo continua aberta, tanto melhor para todos.

Mas que pensar de um político como Dominique de Villepin, aqui mesmo no coração da Europa, que considera os iogurtes Danone um produto estratégico, tendo elaborado uma veemente e pública defesa dos interesses nacionais franceses, contra os putativos interesses da Pepsi-Cola? Típico ridículo nacionalismo exacerbado francês?

Não. Na Polonia ou na Espanha, vemos tambem um pouco mais do mesmo, e em Portugal aproximam-se os tempos em que também o Estado ( a propósito da PT e dos que se lhe seguirão), se prepara para dizer aos cidadãos o mesmo que os outros, e que é resumidamente o seguinte: os accionistas das empresas não conseguem entender o que é bom para eles. Embora sejam na sua maioria investidores institucionais, e os poucos investidores particulares já tenham dado provas de saber o que fazem pelas quantidade de dinheiro que amontoaram, torna-se necessária a intervenção do Estado para que eles percebem qual é o seu interesse.

É lamentável que duas guerras europeias, o espectro da insignificância económica, diplomática e militar, que se aproximam a passos largos da Europa, não tenham conseguido abrir os olhos dos nossos concidadãos para desconfiarem sempre do Estado, desconfiarem dos modernos demagogos, desconfiarem de todos os salvadores que agem eu seu nome, sempre, sempre, sempre, para nosso bem.

A civilização é a penas uma pequena película que esconde a nossa natureza animal profunda, o nosso primitivismo essencial. Basta uma arranhadela para vir tudo à superfície.

quinta-feira, março 09, 2006

Momento cultural

Ouvido hoje na Conservatória de Registo Comercial de Setúbal, depois de setenta minutos de espera:
- Não sei ao certo, mas é qualquer coisa com Maravilha.
- Alice no País da Maravilhas!
- É isso! É isso! Era mesmo isso!

O que faço eu aqui?

Com este título, o inesquecível Bruce Chatwin publicou a sua última obra, (What am I Doing Here, ed. Picador, 1988, 366 páginas, livro sem preço porque trocado por outro em book-exchange na Marina de Bonaire, Mallorca, saudosos tempos), uma selecção pessoal de ensaios, como ele lhe chamou, pouco tempo antes de morrer de uma doença na altura desconhecida (SIDA?).

A pergunta, que tem sido feita por milhões de seres humanos desde há milhares de gerações, não faz mais sentido ser feita, desde que há 150 anos Charles Darwin publicou A Origem da Espécies, seguramente o livro científico do século XIX, que, como tantos outros livros importantes, passou mais ou menos desapercebido entre nós.

A resposta é: nós estamos aqui por acaso (o acaso de Le Hasard et La Necessité de Jacques Monod), porque a seleção natural, a mutação, e a deriva genéticas, fizeram com que uma espécie entre tantas, a nossa, se diferenciasse das muitas outras, e tivesse a linguagem e a inteligência para formular a pergunta. Não há, nem pode haver, nenhum momento mágico em que o macaco se transforma em homem, como os creacionistas nos querem fazer crer, porque esse momento demorou milhões de anos. Somos diferentes dos nossos antepassados de há dez mil anos, e estes diferentes dos seus atepassados de há vinte mil anos, e estes diferentes dos seus antepassados de há cinquenta mil anos, e assim por aí fora, sucessivamente, durante cem mil, um milhão, dez milhões, centenas de milhões de anos, quatro milhares e meia de milhões de anos. As diferenças entre as gerações são ínfimas e só se notam ao longo de muitos milhares de gerações.

Mas a pergunta tem também sido o objecto de uma prática que tanto quanto sabemos é exclusiva ao homo sapiens, a religião. Não é a única. Também a prática da música e das artes, são universais e exclusivas dos seres humanos, mas é a única que se preocupa com a resposta a este tema.

E é curioso notar que as respostas tem evoluído, também sem dúvida pela selecção natural, ao longo da história humana; partilhamos conceitos de distância e de tempo comuns com os nossos antepassados, poderiamos falar com Aristóleles sobre esses temas, mas não partilhamos os mesmos conceitos no que concerne a religião, que tem evoluído como qualquer outra construção do espírito - o Deus de hoje, não é o Deus pessoa física, sanguinária e exigente do Antigo Testamento.

Cada ser humano tem o seu conceito religioso que é aquele que herdou dos seus pais, porque antes de mais a religião é um conceito (meme) hereditário. Para cada um de nós a sua religião é a verdadeira e todas as outras são falsas. Mas as religiões são tão diferentes entre si, como é as diversas expressões da musica ou das artes gráficas. Milhões de católicos veneram Cristo com filho de Deus, e estão dispostos a dar a vida pela sua crença. Milhões de muçulmanos consideram Cristo um qualquer profeta menor, inferior mesmo a Maomé, e também estão dispostos a dar a vida por esta crença. Milhões de Hindús veneram multiplos Deuses, e milhões de Budistas não veneram qualquer Deus, e também eles estão dispostos a dar a vida pelas suas crenças. Milhões de outros tem milhares de religiões diferentes, porque as religiões, ou a sua interpretação, são tantas como os seres humanos.

Acredito que a crença religiosa é inerente à espécie humana, porque desde os agrupamentos familiares e depois tribais, representou o único elo que permitiu que os seres humanos se entendessem, se respeitassem e se aceitassem. Está conosco, dentro de cada uma das nossas mentes, tal como um vírus, em alguns casos inofensivo, benigno até, em outros casos virulento e perigoso.

Sobre este assunto acabei agora de ler um livro de um brilhantismo inescedível, - e muito boas mentes se tem debruçado sobre o tema, e que representará sem dúvida um marco importante no estudo do fenómeno religioso neste século.

Trata-se de Breaking The Spell, Religion as a Natural Phenomenon de Daniel C. Dennet(ed. Penguin Books, 2006, 412 páginas, 25£), um livro que é recomendado por Jared Diamond, aqui já mencionado, e por Richard Dawkins que dispensa apresentação.

Posso garantir que a sua leitura não deixará ninguem indiferente, e muitos bons espíritos incomodados. E mais não digo para não quebrar o spell.

Cinco desafios para cinco anos

Hoje grande dia de uma nova era. Uma era em que o primeiro Presidente da República não-marxista desde a Revolução de Abril inicia o seu mandato.

Ninguém (com juizo) poderá discordar dos cinco desafios anunciados:

- Crescimento económico
- Educação dos jovens e adultos
- Re-estruturação da Justiça
- Reformulação da Segurança Social
- Credibilização da política e dos políticos

nem sequer das prioridades, que são mesmo estas.

Parabens pela coragem de ter referido em primeiro lugar o papel das empresas.

Boa sorte.

PS. Acho que Cavaco Silva tem um discurso que poderá significar o começo do fim dos demagogos da esquerda (PCP e Bloco), alimentados pela tibieza da esquerda tradicional.

quarta-feira, março 08, 2006

Não basta ser ambicioso para merecer o poder

O "regresso" de Paulo Portas ontem à noite por intermédio da SIC Notícias, depois da razoável espectativa criada, foi, como dizê-lo, sem brilho, ou melhor, sem qualquer interesse, ou melhor ainda, uma experiência para não repetir.

Registo a sua nova imagem de distanciamento, moderação, e isenção, em relação à política nacional, (que era aliás esperada e que irá durar até se sentir seguro nas audiências, o que creio que não irá suceder tão cedo). É uma imagem que fica mal a um político com um passado tão combativo.

Registo o pendor para analisar banalidades da política internacional, numa dimensão geo-estratégica mal ataviada, que só pode parecer interessante poque a visão que os portugueses tem do seu país no mundo, começa e acaba na fronteira de Badajoz.

Felicito-o por ter sabido citar Raymond Aron ( o Paix et Guerre entre les Nations devia ser obra de leitura obrigatória para todos os políticos). Não registo mais nada. Da entrevista não ficou mais nada, excepto a amostra de uma ambição mal disfarçada.

Paulo Portas não é um modelo de conservador (embora ele queira fazer crer que é), e não é um liberal. Penso até que há mais conservadores e há mais liberais dentro do PSD, do que no antigo CDS do Paulo Portas (ou Manuel Monteiro). E se Deus não dorme, Cavaco Silva não tem a memória curta.