terça-feira, junho 19, 2007

Sir Salman Rushdie

Ao fazer sessenta anos, e depois de cumpridos dezoito anos, sobre a fatwa de Komeni que o condenou à morte pela escrita dos Versículos Satânicos, o maior romancista vivo de língua inglesa, é finalmente condecorado pela Rainha de Inglaterra, um reconhecimento mais do que merecido.

Os Versículos Satânicos são uma história de um profeta a quem o diabo tenta, ditando-lhe sentenças, que são inscritas no Corão. Quem conhecer minimamente o Corão poderá entender o porquê da revolta dos muçulmanos na altura; pode menos entender a comoção de hoje e os renovados apelos ao assassinato do escritor, que só se explicam pelo fervor religioso de uma religião de fanáticos que pensam poder ditar as suas leis a um país europeu enfraquecido por décadas de multiculturalismo.


Rushdie não é um político, mas um romancista, "alguém que escreve contos de fadas para adultos", no dizer de Nabokov. Um grande romancista aliás. Um dos poucos romancistas modernos que eu consigo ler. Li O Ultimo suspiro do Mouro que é um romance monumental sobre a história de uma família portuguesa em Bombaim ( Rushdie nasceu nessa cidade), e um livro magnífico. E li também O Chão que ela Pisa, que retrata a história divertida e trágica de uma cantora pop, um assunto aparentemente frívolo tratado com a maior seriedade. Não li ainda o Shalimar The Clown, que guardo para este verão.

Como disse não sou muito dado à leitura de romances, e acho notável que dois dos dois melhores romancistas de língua inglesa da actualidade V. S. Naipaul e Rushdie sejam de origem indiana (V. S. Naipaul é nativo da ilha de Trinidad), e louvo a atitude do governo inglês de reconhecer publicamente este grande escritor. E já agora aproveito para lembrar que Rushdie nunca levará o Nobel: tem demasiada categoria para ser indigitado para um prémio tão politizado.