quinta-feira, março 31, 2005

Why Do Intellectuals Oppose Capitalism? - três pontos de vista diferentes

Em primeiro lugar um artigo interessante de Robert Nozick publicado pelo Cato Institute sobre um tema bem presente.

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Também sobre o mesmo tema foi agora traduzido para o português o livro de Raymond Boudon, professor na Sorbonne, intitulado Pourquoi les Intellectuels n'aiment pas le libéralisme (243 páginas, ed. Odile Jacob, fev. 2003).

Resumindo as conclusões do autor:

1. Porque o liberalismo não propõe uma teoria do mundo chave na mão,
2. Porque está em concorrência com algumas visões do mundo que nos foram trazidas pelas religiões regulares e seculares,
3. Porque o libealismo não pode realizar de uma só vez os objectivos a que se propõe: respeitar a dignidade de todos, dar a todos as mesmas oportunidades, assegurar a todos os mesmos direitos, e combater eficazmente os efeitos preversos que engendra.

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Existe ainda uma explicação científica evolucionista que nos ensina da impossibilidade de o capitalismo e o liberalismo virem a ser aceites pela maioria dos homens por serem contrárias ao sentido íntimo do homem primitivo e da sua evolução nos ultimos 200.000 anos.

Básicamente, o homem primitivo que existe em nós não compreende que se possa criar riqueza ou bem estar, sem se estar a prejudicar terceiros, porque durante milénios criou um sentido de justiça, que hoje lhe é inato, e pelo qual se alguém enriquece (ou traz mais caça), só pode ser à custa de outrem que ficou prejudicado. O que era verdade num mundo fechado de pequenas tribos de 30 pessoas de caçadores-colectores, onde ninguém podia ter mais do que o outro para não desfazer a coesão social.
O sentimento da inveja, que hoje nos é inato, desenvolveu-se naturalmente a partir desse pressuposto. Não nos devemos admirar por isso, pois se nem o próprio Marx, há apenas dois séculos, entendeu o fenómeno da criação da riqueza, tendo desenvolvido a teoria que só se criam mais-valias pela exploração do trabalho, ou seja, explorando alguém. Ele também via o mundo como um ambiente fechado (zero-sum game). Mesmo hoje, muitas pessoas por exemplo não entendem como um Banco pode criar riqueza a partir do dinheiro dos seus depositantes, (o que explica por exemplo a aversão dos muçulmanos à noção do juro), ou ainda manifestam incompreensão perante o triunfo de alguém que descobre o filão de venda de um produto para o qual milhares estão voluntáriamente dispostos a desviar as suas poupanças, seja na alimentação, na cosmética, nos automóveis, ou nos computadores. Nesse sentido, e para essa pessoas, que são a maioria, o capitalismo ou o liberalismo parecem resultar de acções anti-naturais, criadoras de desigualdades e portanto de rejeitar.

Parece-me ser esta a explicação mais correcta, e pelo menos tem base de sustentação científica.