domingo, agosto 06, 2006

São os jornalistas quem mais devemos temer

O jornalista típico é um ser humano com todos nós, com boa formação, politicamente correcto, um democrata que defende os direitos do homem, os direitos das minorias, a igualdade entre os sexos, o direito à vida, o ambiente, a liberdade de informação, a liberdade de opinião.

Porque se transforma então num fanático quando escreve um artigo de jornal, ou faz uma reportagem para a televisão?

É confrangerora a simpatia que muitos jornalistas nutrem por um personagem sinistro como Fidel Castro, que é um reconhecido e assumido assassino de milhares de cubanos seus compatriotas, um perseguidor de homosexuais e de portadores de HIV, a quem coloca em campos especiais de tratamento, um defensor acérrimo da pena de morte que aplica à sacidade, um abusador dos direitos humanos, um ditador que subjuga há 47 anos onze milhões de pessoas, a quem impede o acesso à cultura, à televisão, à internet, ao consumo. Porquê a simpatia?

Porquê a simpatia ou no mínimo a tentativa de "compreensão" de uma causa como a dos Taliban ou agora dos Hezbollahs, personagens da Idade Média, que mutilam e escravizam as mulheres, que fazem gala da sua poligamia, que utilizam homens-bomba junto de escolas ou autocarros, que matam indiscriminadamente mulheres ou crianças entre as quais se misturam para lançar bombas, que querem destruir a civilização ocidental, que são contra a liberdade de opinião, os jornais ou quaisquer outros escritos não religiosos, ou até a própria musica. Porquê a simpatia?

Uma primeira resposta reside na aceitação quase universal do multiculturalismo: todas as culturas são equiparáveis, não há culturas melhores ou superiores a outras. Todas tem aspectos positivos e aspectos negativos. Esta posição mental é filha do relativismo moral, uma descoberta do séc. XX, que nos ensina que o bem e o mal não são valores absolutos, mas conceitos relativos que variam de acordo com quem os pratica.

Uma outra resposta tem a ver com uma crítica ao modo de vida da sociedade capitalista ocidental, materialista, utilitária, complexa, livre, injusta, que não encaixa com as soluções miríficas chave-na-mão que os intelectuais literatos tem para o mundo.

O sistema escolar actual instila nas profissões académicas uma sensação de injustiça em relação às outras profissões mais técnicas e entendidas por eles como menores, uma vez que a sociedade capitalista premeia acima de tudo aqueles que trazem soluções para as necessidades que o mercado apresenta, em detrimento das profissões de maior prestígio e poder. A sociedade capitalista dá a cada um de acordo com a sua participação no bem-estar dos outros. Posto de modo mais simples: é inaceitável para muitos intelectuais que um mero vendedor de hamburgueres à porta do estádio possa ganhar mais dinheiro, ter melhor vida, que um jornalista encartado. E como é inaceitável, a sociedade que permite isso é rejeitada.

Nesse sentido a defesa intelectualmente contraditória e contra-natura de soluções puras ou simplesmente rejeccionistas como Cuba ou o Islamismo integrista.

Para uma melhor compreensão deste fenómeno recomendo a leitura deste artigo de Robert Nozik, professor de filosofia em Harvard, para além do extraordinário ensaio de Ludwig von Mises, The Anti-Capitalistic Mentality, um clássico.

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