quinta-feira, abril 21, 2005

O Lucro e a transformação de umas S.A. em E.P.

O Primeiro Ministro anunciou, sem qualquer contestação significativa, a transformação dos Hospitais, de Sociedades Anónimas em Empresas Públicas, alegando que na saúde pública não se deve ter como objectivo a obtenção de lucros.
O assunto parece ser pacífico e não provoca ondas: afinal a saúde toca a todos e a cada um de nós, e os Hospitais públicos devem estar preocupados com a qualidade dos serviços que prestam, e não com o lucro vil.

E no entanto nada de mais errado se pode fazer na gestão de uma organização.

Quando qualquer equipa de gestão se deixa de preocupar com o objectivo lucro, a ultima linha do balanço, e a única medida objectiva pela qual a gestão de um empreendimento pode ser julgada pelos seus donos (os accionistas em Assembleia Geral), essa mensagem é inconscientemente passada pela linha de comando para todos os elementos da empresa, e o resultado imediato, verificável no final do ano, é o buraco financeiro.

E isto é assim porque o lucro é o resultado do controle apertado de inúmeras pequenas variáveis, cada uma a cargo de uma ou várias pessoas na organização, que de um modo difuso conhecem a importancia de cada um para a obtenção de resultados positivos. A diferença entre lucro e prejuizo está no falhanço em coordenar a resultante destas variáveis. Numa unidade hospitalar o lucro está sempre no fio da navalha, e se essa preocupação não existe como prioritária, o prejuizo não é simplesmente mínimo, mas avassalador.

Acresce que quando se retira à Assembleia Geral dos accionistas o poder de punir a gestão pela falta de resultados (lucro), e se atribui esse poder a um qualquer burocrata por mais Secretário de Estado que este seja, esse poder está a ser entregue a alguém que apesar das suas muitas qualificações e boa vontade, não está comprometido com os resultados (não é dele), e tenderá sempre a aceitar qualquer desculpa de falhas da gestão como boa. Afinal ele deixou de ter medidas objectivas para ler os resultados.

Não tivemos já essa experiência com vinte anos de E.P.s?