sexta-feira, outubro 20, 2006

Porquê referendar o aborto?

Por uma vez estarei de acordo com o Partido Comunista que votou contra a proposta de referendar o aborto. Um assunto desta importância, complexidade, e sobretudo, emotividade, não pode, não deve ser referendado. Levanta demasiados tabús, mexe com os sentimentos, a moral e a ética de cada um, divide a sociedade em vez de a unir, e a parte vencida vai-se sentir sempre traída, como aliás foi o caso no ultimo referendo, uma lamentável decisão que só poderia ter vindo de um homem com a notável falta e coragem e de visão política de um António Guterres.

Compete outrossim aos eleitos a obrigação e a responsabilidade de fazer uma lei, de a discutir e votar na Assembleia da Republica, e finalmente de assegurar a sua aplicação, o que não é de somenos importância, porque pergunta-se como vai um sistema de saúde em que há listas de espera de meses para uma simples operação, suportar uma intervenção por natureza urgente?

Já acho escabrosa a opinião, aliás recorrente, manifestada pela deputada Odete Santos, de que a decisão do aborto compete exclusivamente à mulher, porque é ela quem tem os ovários. "-Os homens devem ser excluidos desta decisão porque eles não podem engravidar". Se assim é, esclareça-me ilustre deputada, como poderá mais tarde obrigar os pais a terem deveres para com os filhos, ou a partilhar a responsabilidade do matrimónio?

Concordo que a mulher está muito mais envolvida emocionalmente com o feto, que a mulher por ter uma relação física com o que está dentro da sua barriga, sente diariamente a responsabilidade de a ver crescer, e a preocupação de a sustentar, se não é uma criança desejada.

A decisão de abortar deve primeiro que tudo ser uma decisão esclarecida, o que não é o caso, e pelos efeitos físicos e psicológicos que tem na mãe, não deveria ser tratada como uma banal operação do tipo "vou ali e já venho", como nos querem fazer crer os proponentes do aborto.

A decisão de provocar um novo referendo, revela uma vez mais, falta de coragem política por parte de todos aqueles, deputados, governo, e oposição, que foram eleitos para assumirem responsabilidades.

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