sexta-feira, abril 14, 2006

Opera Buffa


De Itália vieram esta semana notícias boas e notícias más . As notícias boas são a provável saída de Berlus- coni. As notícias más são as da chegada de Prodi.

Longe de mim a crítica dos negócios do cavaliere. Toda a campanha eleitoral foi feita na base do ataque pessoal, quando havia muito mais para criticar. Silvio Berlusconi deu a Itália um período de tranquilidade governativa nunca visto deste a derrota na guerra, mas não aproveitou a governação para fazer as mudanças de fundo que a Itália precisa. Deu também a impressão (ou seria essa a imagem que passou na imprensa europeia?) de que estava mais preocupado em libertar-se dos multiplos processos em que está envolvido, do que mudar a Itália.

De Romano Prodi há pouco a dizer e menos a esperar. Foi o mais banal e medíocre Presidente da Comissão Europeia que já conhecemos, e vai liderar um governo que é um saco de gatos. Para os mais distraídos lembro que a coligação é a mesma que levou à queda do governo socialista anterior, e com os mesmos personagens. Não se esperem mudanças de fundo com um déficit record. Ou seja, mais do mesmo.

De França as notícias não são más, são francamente más. Chirac cedeu à tentação do populismo e retirou a mais tímida tentativa de criação de emprego para os jovens de menos de 26 anos de que há memória. Cedeu à pressão dos sindicatos e fortaleceu a esquerda que se sente revigorada. O Liberation interroga-se sobre o porquê dos empresários franceses estarem pessimistas e declararem que vão criar menos empregos este ano que em 2005. Vraiment? Não se espere da França a liderança de coisa nenhuma. Chirac só lá está para se manter no poleiro e salvar a pele.

A Alemanha tem um governo de coligação contra natura que parece estar a funcionar exactamente porque nada está a mudar. Há demasiadas esperanças depositadas na Frau Merkel, e espera-se que não decepcione, porque a Alemanha (tirando o infeliz episódio Shroeder, e também os alemães tem o direito de brincar ao socialismo, ou não?), é um país que leva as coisas a sério.

Na própria Inglaterra, o motor económico e fonte reformista da Europa nos últimos dez anos, o ambiente é de melancolia, antecipando a saída do cansado Tony Blair.

A nossa vizinha e principal parceira de negócios, a Espanha de Zapatero é um desastre político, com uma economia saudável, salve-se ao menos isso. Zapatero está nas mão das minorias catalãs e bascas e navega à vista entre os escolhos. A propósito, a ETA já foi mas não é mais um movimento político, é só criminalidade organizada, um modo de sacar dinheiro à maneira da Máfia, que é aproveitada pelos movimentos independentistas bascos (atenção ao plural) para assustar a burguesia espanhola. Mas a Espanha independentemente de quem a governa sempre soube o que quer e para onde vai.

Entretanto o petróleo continua a subir moderadamente. Pergunta-se porquê. A Arabia Saudita está a aguentar os preços, e a produzir graças aos americanos (quem mais?). O Iraque continua a produzir (se lá estivesse o Saddam o que seria de nós?). O Irão, que por causa do expansionismo islâmico que impregna toda a sua acção diplomática representa o maior perigo que assola o mundo neste início de século, continua a produzir. A Russia precisa do dinheiro e exporta em força. A Venezuela fala, fala, mas continua a mandar quase toda a produção para os EUA. A Nigéria está à beira da falência, da revolução islâmica, de ser proclamado um estado falhado, mas já está assim há anos, e, mais ou menos atentados, continua a produzir em força. Face a isto a Europa está impotente diplomática e militarmente. As forças armadas dos países europeus (exceptuando a Inglaterra) são uma brincadeira, sem homens, sem material e sem dinheiro, e a Europa, que não pode viver sem petróleo, não mexe uma palha para garantir os seus suprimentos, e como é costume abriga-se debaixo da protecção americana. Mas não deixa de criticar como sempre fez.

O desastre é eminente como diz Luciano Amaral num artigo lúcido de tom pessimista.

A Europa precisa de um bode expiatório para descarregar a culpa dos seus males. Já foram os judeus e os ciganos, agora tocou a vez aos americanos. Entretanto vamos todos cantando e rindo atrás do flautista de Hamelin. Para commedia buffa só nos faltava a musica.