quinta-feira, março 23, 2006

A vitória do Capitalismo

Como modelo de organização da sociedade, o triunfo do Capitalismo pode ser medido pelo sucesso de uma das sua actividades mais incongruentes: o negócio do anti-capitalismo.

O anti-capitalismo é um nicho de mercado próprio que se transformou num negócio florescente, desde que começou a ser administrado como negócio à maneira capitalista.

Noam Chomsky, um dos ícones mais sagrados do activismo de esquerda mundial, um crítico feroz da socidade capitalista, e do seu próprio país, os Estados Unidos da América, é um capitalista de enorme sucesso. Portador de uma carteira de títulos de invejável sucesso bolsista, ainda que, hum, não recomendáveis para um esquerdista, como armamento, petróleo e farmaceuticas, acaba de criar um Trust para gerir os lucros da sua actividade anti-capitalista, e transformou-se numa marca registada. De obscuro linguista e professor do MIT, passou pela sua actividade recente a viver das receitas de centenas de palestras que profere por ano, e dos livros que publica e que vende instantâneamente no mercado livreiro, com resumos das suas palestras. Como bom capitalista que é, aumentou os seus fees por palestra de 9.000 para 12.000 dólares, logo a seguir ao 11 de Setembro porque percebeu que com a procura de um crítico que responsabilizasse o capitalismo em geral e os Estados Unidos em particular por esse acontecimento, tinha nas mãos um mercado com crescimento assegurado. O reporter Peter Schweizer do National Post declara ter pago até para o entrevistar. Vale a pena ler o artigo.

O galego Ignácio Ramonet, que se intitula especialista em geopolítica, fundador da Associação Attac, é para além de Director do mensal Monde Diplomatique (M.D.), um dos seus principais accionistas através da Associação dos Amigos do Monde Diplomatique (25% do M.D.) e Association Gunter Holzmann (24% do M.D.) que controla. Para os mais desatentos o Monde Diplomatique é o refúgio intelectual da esquerda europeia. Fez do seu core business a crítica do capitalismo e do modo de vida ocidental, e pode-se afirmar que como jornal desapareceria se abandonasse esse nicho de mercado, mas ao contrário do seu pai pobre, o diário Le Monde (51% do M.D.), que tem de se preocupar com uma comunidade de leitores crítica e heterogénia, ainda que de esquerda, o Monde Diplomatique é um jornal de sucesso, porque quem o lê já sabe ao que é que vai.

Já vão longe os tempos e que Zeca Afonso carpia os males do capitalismo (eles comem tudo...), vivendo do seu salário de professor. O seu émulo moderno Pedro Abrunhosa, não tem vergonha de emprestar o seu nome e a sua imagem a uma campanha do BCP que entra pelas nossas casas pela TV e rádio a todos os instantes. Poucos o conseguem copiar, não porque não tenham o seu talento, mas apenas porque não conseguem montar uma operação de marketing com o mesmo sucesso.