domingo, outubro 31, 2010

Está provado, estes canalhas são todos iguais, e este sistema é irreformavel.

E agora PSD? Que ganhou o país com esta farsa em que vocês tão activamente colaboraram?

A opinião de alguém que não pensa dentro da caixa. Alberto Gonçalves no Diário de Notícias:
.............................................................................................................................................................
O PSD está satisfeito com o acordo atingido no Orçamento do Estado, que considera uma "vitória para Portugal". Não é para menos: conseguiu legitimar um documento que acha, e é, catastrófico e prolongar a governação dos que acha, e são, responsáveis pela catástrofe.
Mudanças? Uns trocos na receita. Naquilo que contaria, leia-se a redução da despesa, não consta que tenha havido revoluções. Nas 14 mil entidades públicas, por exemplo, a que acresce a futura entidade para "avaliar a evolução das finanças públicas" (ideia do PSD), os "cortes" continuam restritos a umas alucinantes 50, das quais 9 não existem.
Por outro lado, os jornais juram que o Governo aceitou "reavaliar" as parcerias público-privadas, incluindo os projectos como o TGV. No papel, o gesto é louvável. Na prática, mostra o desarranjo psiquiátrico a que se chegou. É extraordinário que, numa altura em que a única alta velocidade plausível é aquela a que nos dirigimos para o abismo, o TGV, "reavaliado" ou temporariamente suspenso, ainda seja assunto de debate. O Governo é o sujeito endividado que, em vez de declarar bancarrota, pede seis meses para pensar se deve adquirir um Bentley. O PSD é o credor que lhe concede os seis meses.
E mesmo estas singularidades partem do princípio de que se podem levar a sério as garantias de gente que prospera exclusivamente à custa de patranhas. Nada impede, e tudo sugere, que, mal obtenha o aval parlamentar, o eng. Sócrates volte a detectar sinais de retoma, sintomas de crescimento e indícios de prosperidade onde, no mundo real, só há desgraças. Nada impede que daqui a três ou quatro dias regresse a defesa apaixonada do "investimento" público e do "Estado social". Nada impede que retorne a retórica da confiança e do optimismo. Nada impede que a demência prossiga imaculada.
Eis um espectáculo evitável, que o PSD não evitou. Por dramáticas que fossem as consequências de uma posição inversa, viabilizar o Orçamento é dar nova oportunidade a quem já desperdiçou imensas, mais do que as desejáveis, mais do que as possíveis. O argumento de que apenas o "sim" ao Orçamento garantiria a nossa credibilidade no exterior esvai-se no instante em que o "sim" também aprova o Executivo que reduziu a credibilidade a farrapos. O "não" talvez (talvez) permitisse um esboço de regeneração. O "sim" assegura que a regeneração não passará.
Desde ontem que multidões de peritos discutem se a intrincada estratégia do dr. Passos Coelho lhe é favorável ou se, pelo contrário, favorece o eng. Sócrates. Sem surpresas, os peritos esquecem-se que, muito abaixo de tais sumidades, subsiste uma espécie de país, um país que por enquanto antecipa a ruína e que, em breve, a experimentará de facto. Suspeito que esta particular vitória de Portugal não levará bandeirinhas às janelas.
Segunda-feira, 25 de Outubro
...................................................................................................................................................