sábado, janeiro 27, 2007

O que está em causa

No Iraque, como na Palestina ou no resto do Médio Oriente, o que está realmente em causa? O que está em causa independentemente de todas as desculpas que se possam querer dar, verdadeiramente o que está em causa é a liberdade. A nossa liberdade, a liberdade do que chamamos mundo ocidental. A nossa liberdade, a nossa civilização contra a barbárie.

Só haverá paz no Médio Oriente, da Algéria à Siria, da Palestina ao Iraque, da Líbia ao Egipto, quando esses países forem democracias, quando esses povos tiverem a oportunidade de escolher o seu destino, quando terminarem as tiranias que enriquecem os seus dirigentes e as empresas do ocidente e do oriente que os alimentam. Quando esses países adoptarem a economia do mercado como fonte de progresso para todos. Quando os seus povos passarem da condição de súbditos a cidadãos. Enquanto isso não suceder o Médio Oriente será sempre o ninho de intrigas, de guerras e de atrocidades que caracterizam esse lugar geográfico desde tempos imemoriais.

É curioso observar que todos os inimigos da liberdade estão, sem excepção, aliados contra a política americana no Iraque. Todos usam o argumento que estão contra Bush, por causa do seu unilateralismo imperial e dos manifestos interesses do petróleo, mas na realidade sabem bem que estão a atacar o coração da única democracia que existe no planeta com mais de cem anos de existência. E não suportam que essa democracia lhes estrague o negócio.

Todos os inimigos da liberdade estiveram ontem contra a acção da NATO na Sérvia, defendendo sem vergonha a continuação dos campos de morte de Milosevic, contra a mesma NATO no Afeganistão, e estão hoje contra o envio de soldados da ONU para o Sudão (deixem-nos morrer porque são pobres e pretos), contra a aplicação de sanções ao Irão (bomba atómica? e depois? Israel não merece levar com uma bomba atómica?), contra sanções à Coreia do Norte (é o sistema que eles escolheram e não nos devemos intrometer na sua política interna), ou ainda e sobretudo contra qualquer acção que possa por em causa o status quo do Mundo Islâmico.

Para os ocidentais teria sempre sido mais importante continuar com a negociatas entre as empresas e os governos corruptos, e assim fechar os olhos aos gaseamentos dos curdos, à perseguição da maioria shiita no Iraque, aos campos de concentração e valas comuns do regime de Saddam, enquanto este continuava a comprar Ferraris e Aston Martin para os seus filhos. Durante os últimos quarenta anos o ocidente comprou biliões e biliões de dólares de petróleo, e no entanto em todos os países árabes não existe uma só empresa de renome, um só empresário conhecido. O petróleo transformou-se em palácios e imobiliário no sul de Espanha e de França, em contas na Suíça, e na continuação de mais miséria para os povos árabes. A liberdade eles não sabem o que é, e os seus dirigentes nem os deixam falar nisso. É como se tratasse de pornografia para menores, e nós colaboramos nisso. Mas nós quem?

O mundo ocidental está à beira do colapso demográfico e civilizacional, e o auto-intitulado quarto poder é o maior responsável por criar uma nuvem de fumo, um clima de espectáculo em que a emoção se sobrepõe à razão, a imagem gráfica se sobrepõe à analise fria dos factos. Damos demasiada importância às imagens que aparecem na televisão e à opinião de comentadores sem credenciais, com o argumento que é necessário ouvir as duas partes. O criminoso e a vítima. Sem distinguir o peso moral de um e de outro, porque para eles a moral não existe.

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