quinta-feira, março 03, 2005

De novo os ventos da Mudança. (E se ele tiver mesmo uma estratégia?)

O discurso de Ronald Reagan sobre o Império do Mal foi na altura recebido com as graçolas habituais dos media e inteligencia ocidental: um actor de segunda, ainda por cima semi-analfabeto, permitia-se dar lições de moral sobre o comportamento dos líderes do mundo socialista e sobre o futuro da liberdade nesses paises.
Sabe-se hoje que foi esse o primeiro pontapé que levou à queda do muro de Berlim, e tudo o que daí decorreu. Sabemos hoje que Reagan tinha uma estratégia, que executou com sucesso, e que passava por falar aos oprimidos em Liberdade, e esperar que eles se levantassem.
As guerras de libertação do Iraque e Afeganistão foram julgadas com a superioridade moral e hipocrisia habitual do ocidente, tão bem analisadas no livro magistral de Fernando Gil e Paulo Tunhas, Impasses (Pub. Europa-América, 2003, 238 paginas). Uma vez mais um presidente imbecil (evidente pela cara), mentiroso (bush-lied-people-died) e corrupto (Halliburton), veio impor a vontade das multinacionais do petróleo.
Deixada a poeira assentar verifica-se que no Afeganistão foi eliminado o regime de terror e houve eleições onde o povo escolheu os seus representantes. No Iraque 8 milhões de pessoas enfrentaram as ameaças terroristas para ir votar. Todos os árabes puderam assistir a isso pela televisão.Na Palestina a morte dos mártires já não é assinalada com tiros e manifestações populares.

Anda qualquer coisa no ar e está a mexer. Ainda é muito cedo para saber o quê, e se é fruto de uma estatégia de Bush/Rice para desinquietar o establishment do mundo árabe. Bush veio à Europa e fez um discurso onde usou 27 vezes a palavra Liberdade e não foi chamado de imbecil pelos media. No Libano o povo acordou e manifestou-se contra o assassinato do antigo primeiro ministro. No Egipto Mubarak diz que vai aceitar a concorrência da oposição nas próximas eleições. Na Arabia Saudita vai ser permitido o voto das mulheres.
A desestabilização veio para ficar.
Os ventos da mudança sopram de novo.
O mundo está realmente uma vez mais a mudar, e uma vez mais a velha Europa está a passar ao lado dos acontecimentos.