terça-feira, maio 02, 2006

O Brasil desfigurado

Pela sua dimensão geográfica e importancia económica, o Brasil sempre teve a pretensão de desempenhar um papel importante na América do Sul, e quiçá até no Atlantico Sul, como a sua política diplomática demonstrou no final do século XX no continente sul-americano e no cone sul de África. Recorde-se o trajecto do General Golbery do Couto e Silva, que nos anos setenta foi o iniciador dessa ambição diplomática.

O Brasil foi sempre o impulsionador e o motor das relações bilaterais que exerceu com os seus vizinhos, mantendo-se tradicionalmente à margem das convenções multilaterais internacionais de comércio ou outras, e o peso do Itamaraty sempre foi respeitado e temido em toda a América Latina.

É por isso surpreendente constactar que desde a emergência do fenómeno Lula (um indigente intelectual na suprema chefia do Estado), a importancia do Brasil se tem vindo a reduzir a uma dimensão paroquial, quase irrelevante, com consequências gravíssimas cujo alcance começamos apenas a vislumbrar.

Tudo começou com o apoio discreto que foi dado ao Presidente Kirchner da Argentina, quando este num re-assomo de populismo peronista quiz acabar com a influência das multinacionais estrangeiras no seu país, acusando essas empresas de provocarem o aumento do custo de vida, que a sua incapacidade governativa fomentava.

Vimos Lula viajar para a Venezuela e dar apoio explícito ao militar e demagogo Hugo Chavez, na sua política de "emancipação bolivariana" em relação às potencias estrangeiras, vulgo, Estados Unidos. Recorde-se que Hugo Chavez iniciou relações particularmente estreitas com o ditador das Caraíbas Fidel Castro, que reina há quarenta anos num campo de concentração de onde é impossível sair. Chavez recebeu há cerca de um ano o Presidente do Irão, e a Venezuela é um dos membros da OPEC, o cartel que controla os preços do petróleo.

Agora tocou-lhe a vez em casa. Evo Morales acaba de anunciar a nacionalização da industria petrolífera boliviana, e o maior prejudicado é a estatal brasileira Petrobrás. Quando se começa a brincar com o fogo é muito difícil apagar o incêndio que se lhe segue. Que a bofetada sirva de lição também a Zapatero (Repsol) e Chirac (Total), que seguiram pelo caminho do Lula e receberam com pompa e circunstância o insignificante político Morales.

Há vinte anos atrás nenhum líder sul-americano ousaria fazer o que Morales fez ao Brasil, pois temeria consequências retaliatórias comerciais que seriam inevitáveis. As potências regionais tem de mostrar musculo para se dar ao respeito, mas duvido que Lula que tem pés de barro, passe para além das palavras. Aguardo com curiosidade o que fará a oposição do governo brasileiro.

Entretanto mais alguns líderes de países limítrofes vão ficar com ideias. Para a América do Sul a situação está a ficar preta.