quinta-feira, janeiro 05, 2006

Ineficaz será mesmo o termo certo?

"As técnicas da Comissão de Protecção de Crianças e Jovens (CPCJ) de Viseu que acompanharam o caso do bebé de Mozelos foram ineficazes, confiaram demais, e estavam mal preparadas", conclui o relatório elaborado por três inspectoras do Ministério da Saúde, da Justiça, e do Trabalho e da Solidariedade Social.

A notícia vem no Público de hoje (link não disponível) , via SIC.

A história é simples de contar: no dia 9 de Dezembro um bebé com 50 dias de vida entrou pela quarta vez no Hospital Pediatrico de Coimbra, desta vez em estado de coma, devido a maus tratos e abusos sexuais por parte dos pais.

Pela quarta vez em cinquenta dias
.

A criança que estava entregue aos cuidados da avó materna por suspeita de incapacidade dos pais naturais, era "acompanhada" pela CPCJ de Viseu, uma assistente social e uma psicóloga. Apesar do pai ser referenciado em três casos de abuso sexual de menores, as "técnicas" da CPCJ nunca falaram com os vizinhos do casal, nunca foram à polícia, nunca falaram com os médicos do Hospital que anteriormente haviam detectado agressões graves, nunca falaram com a médica de família do Centro de Saúde. As profissionais confiaram no pai que no dia da visita (?!) disse que a mãe e bebé estavam a dormir.

Até aqui tudo normal. Ou seja, o costume.

O que não é normal, o que não pode ser normal, é que este comportamento de grave negligência seja apelidado por uma Comissão nomeada por três Ministérios como de meramente ineficaz, atirando-se a culpa para o "sistema", ou a "falta de meios", ou a "sobrecarga de trabalho", que é o que significa a frase "estavam mal preparadas".

O que não é normal é que essas "técnicas" não tenham sido imediatamente suspensas, e com um processo de homicídio por negligência. Não pode ser normal que três Ministérios dêm cobertura a este escândalo, a não ser que se esteja a proceder a um branqueamento do caso.

A notícia sai assim de mansinho, a ver se passa despercebida no ruído das presidenciais, e se calhar até vai passar.