domingo, março 11, 2007

O Jornalismo é de Esquerda

Numa sondagem do IFOP que apareceu hoje em França, François Bayrou surpreende a imprensa e aparece ao lado de Ségolaine Royal nas intenções de voto com 23%. Em primeiro lugar continua Nicolas Sarkozy com 28% das intenções de voto.

Digo que surpreende a imprensa, porque os jornalistas não gostam de ver a esquerda eliminada à primeira volta, como não gostaram no passado de ver os franceses colocar Le Pen na segunda volta das presidenciais contra Chirac.

Os jornalistas vivem tão intensamente a sua ilusão de sociedade que nem sequer se escusam a declarar depois que "os franceses votaram mal" ou que estão "equivocados". Por enquanto a desculpa é a de que esta eleição se transformou num plebiscito a Sarkozy, o que explica a descida de Royal, porquanto Bayrou parece ser o único candidato capaz de bater Sarkozy à segunda volta.

Boa desculpa.

Mas a pergunta fica: porque são os jornalistas maioritariamente de esquerda? E porque nos dão uma imagem da realidade que não corresponde à realidade? Porque se equivocam quase sempre? Porque vivem numa ilusão permanente, num circuito fechado, (ainda que a nível global), onde se lêem e se criticam uns aos outros como se mais nada importasse? E finalmente porque não tem consciência disso?

Em primeiro lugar há que reconhecer que o jornalismo é uma indústria, a indústria das notícias, de vender jornais ou de vender imagens. Esses jornais e essas imagens são transformadas em receitas de publicidade, e com essas receitas são pagos os salários.

Não há um dia em que se abra a TV ou um periódico e se não vejam notícias sobre os carros-bomba no Oriente Médio, desastres de comboio na Índia, tsunamis no Japão, crianças maltratadas por todo o lado, serial killers perseguidos pelas policias, tudo o que tenha muito sangue e apele à emoção. Como indústria que é, quando não tem matéria prima fabrica as notícias, ou exagera aqui e ali. O jornalista tem que vender notícias para que as pessoas comprem e os anunciantes invistam nesse media.

O facto de se pensar que se está a influenciar a opinião de milhões, ao entrar na intimidade de cada um, porventura imbuído de uma missão de esclarecimento e de educação das massas, dá aos jornalistas uma auto-estima que está muitos pontos acima do seu valor real para a sociedade. Mas como vivem em circuito fechado e só se lêem e ouvem uns aos outros, para eles é suficiente.

A sociedade moderna é reflectida no mercado. O mercado não atribui aos jornalistas (e de um modo geral às chamadas profissões intelectuais) o valor que os próprios julgam ter, porque o mercado é pragmático e paga a cada um de acordo com a sua contribuição para as necessidades do mesmo mercado. Um intelectual, só pelo facto de ser intelectual, não é melhor reconhecido pelo mercado do que alguém que produz bens ou serviços que são valorizados e comprados pelas pessoas. Um intelectual que "vende" muita informação, esse sim tem o reconhecimento do mercado e o seu valor é reconhecido monetariamente - que é o modo mais justo como o mercado reconhece o valor. Mas esse por definição é a excepção.

Poderá dizer-se que este sistema de valorizar as coisas pelo seu valor de mercado é injusto, e de facto parece ser. Mas é o menos injusto sistema que se conhece. Qualquer outro passa por uma decisão (pessoal ou de comité), menos democrática, e mais passível de julgamento subjectivo do tipo "eu/nós achamos que este senhor tem mais valor do que aquele e portanto deve ser melhor reconhecido pela sociedade".

Mas este sistema, que é o menos injusto, cria naqueles que não lhes reconhecem as virtudes, a sensação permanente de injustiça. Os falsos ou verdadeiros injustiçados, são os melhores contribuintes para as hostes da esquerda. Só aí se sentem bem, porque a principal característica do pensamento de esquerda é o permanente descontentamento com o estado da sociedade, qualquer que este seja, e o desejo de a substituir constantemente por outra.