"Homens, Espadas e Tomates" de Rainer Daehnhardt
Recebi pelo Natal como oferta, este livro que, pelo título, nunca compraria.
Engano meu. Rainer Daehnhardt é para além de um grande colecionador de armas, um patriota, um ferrenho amante de história de Portugal, um profundo conhecedor das armas e do modo de guerrear dos portugueses de antanho. E o livro é de agradável leitura.
A primeira parte (edição Zéfiro, 2005, 337 páginas e 151 ilustrações) é um somatório de relatos de aventuras dos portugueses na India. Quase todos desconhecidos, e contados de um modo vivo e divertido.
A segunda parte é quanto a mim a mais interessante, e responde a uma pergunta que nunca até hoje vi ser respondida: Como é que com cerca de 600 homens Afonso de Albuquerque conquistou a India? Como é que durante quase cem anos, meia dúzia de naus lentas e pesadas a milhares de quilómetros da sua terra, conseguiam consistentemente derrotar centenas de navios mais ligeiros e velozes, exércitos de turcos, muçulmanos e indígenas, que se contavam pelas dezenas de milhares?
No aspecto humano a resposta é complexa, mas inclui uma certa dose de fanatismo religioso, uma grande dose de descaramento, e uma coragem no combate que é incompreensível para os homens de hoje.
Uma desvantagem dos portugueses era o facto de já não usarem arcos e flechas, mas bestas com virotes, muito mais lentas de disparar. O alcance dos arcos turcos era de mais de trezentos metros, pelo menos quatro vezes o alcance de um mosquete, e causavam terríveis estragos nas forças portuguesas. No mar colocava-se uma rede sobre a embarcações, mas em terra isso era impossível, e só o uso de escudos podia proteger os infelizes do fogo inimigo. Só que os portugueses quase não usavam escudos, porque preferiam usar na mão esquerda uma adaga.
Porquê então a adaga na mão esquerda, e a espada na direita? A técnica de combate dos portugueses, que eram imbatíveis no corpo a corpo, consistia em aparar os golpes de espada ou cimitarra inimigos com a mão esquerda e enfiar a espada a direito como se fosse um punhal, enquanto o inimigo estava de peito aberto. As espadas portuguesas tinham na guarda uma protecção para o dedo indicador, o que lhes permitia colocar o referido dedo à frente da guarda, e poder assim puxar e retirar a espada depois da estocada, servindo-se dela tal como se de um espeto se tratasse, e adicionalmente, tal como os outros, como se fosse uma moca, num movimento horizontal ou vertical de grande amplitude. Os portugueses tinham que ser exímios esgrimistas porque esta utilização da espada obrigava a saber esgrima, para posicionar os pés na estocada.
Gente temerária e valente, como já não hà.
Engano meu. Rainer Daehnhardt é para além de um grande colecionador de armas, um patriota, um ferrenho amante de história de Portugal, um profundo conhecedor das armas e do modo de guerrear dos portugueses de antanho. E o livro é de agradável leitura.
A primeira parte (edição Zéfiro, 2005, 337 páginas e 151 ilustrações) é um somatório de relatos de aventuras dos portugueses na India. Quase todos desconhecidos, e contados de um modo vivo e divertido.
A segunda parte é quanto a mim a mais interessante, e responde a uma pergunta que nunca até hoje vi ser respondida: Como é que com cerca de 600 homens Afonso de Albuquerque conquistou a India? Como é que durante quase cem anos, meia dúzia de naus lentas e pesadas a milhares de quilómetros da sua terra, conseguiam consistentemente derrotar centenas de navios mais ligeiros e velozes, exércitos de turcos, muçulmanos e indígenas, que se contavam pelas dezenas de milhares?
No aspecto humano a resposta é complexa, mas inclui uma certa dose de fanatismo religioso, uma grande dose de descaramento, e uma coragem no combate que é incompreensível para os homens de hoje.
No aspecto tecnológico a vantagem dos portugueses era avassaladora: as naus portuguesas podiam disparar à tona da agua, fazendo até ricochete, e os seus canhões dispostos na amurada, eram carregadas pela culatra, o que lhes permitia fazer até vinte vezes mais disparos do que as embarcações inimigas, que eram carregadas pela boca, e expunham os seus servidores a ficarem pendurados do lado de fora dos navios, a carregar munições, e ao alcance dos mosquetes portugueses. A força dos pelouros (balas de canhão) portuguesas era tal que um só tiro podia trespassar um navio de um lado ao outro, e eventualmente trespassar dois navios a par. De notar que era necessária uma qualidade de aço ímpar para poder suportar fogo contínuo durante algumas horas, e daí o cuidado que os portugueses punham nas fundições que abriram especialmente em Goa, Cochim, Malaca e Macau, uma vez que as peças de artilharia tinham que ser refundidas depois de cerca de 100 tiros. Os pelouros eram esferas de granito ou mármore, que apesar de envoltas em serapilheira, causavam enormes estragos na alma dos canhões. Os portugueses dispunham ainda de umas pequenas peças de artilharia portáteis e móveis, apoiadas numa forquilha, chamadas de berços, que podiam ser colocadas à popa de pequenas embarcações a remos, com a maior desenvoltura.
Uma desvantagem dos portugueses era o facto de já não usarem arcos e flechas, mas bestas com virotes, muito mais lentas de disparar. O alcance dos arcos turcos era de mais de trezentos metros, pelo menos quatro vezes o alcance de um mosquete, e causavam terríveis estragos nas forças portuguesas. No mar colocava-se uma rede sobre a embarcações, mas em terra isso era impossível, e só o uso de escudos podia proteger os infelizes do fogo inimigo. Só que os portugueses quase não usavam escudos, porque preferiam usar na mão esquerda uma adaga.
Porquê então a adaga na mão esquerda, e a espada na direita? A técnica de combate dos portugueses, que eram imbatíveis no corpo a corpo, consistia em aparar os golpes de espada ou cimitarra inimigos com a mão esquerda e enfiar a espada a direito como se fosse um punhal, enquanto o inimigo estava de peito aberto. As espadas portuguesas tinham na guarda uma protecção para o dedo indicador, o que lhes permitia colocar o referido dedo à frente da guarda, e poder assim puxar e retirar a espada depois da estocada, servindo-se dela tal como se de um espeto se tratasse, e adicionalmente, tal como os outros, como se fosse uma moca, num movimento horizontal ou vertical de grande amplitude. Os portugueses tinham que ser exímios esgrimistas porque esta utilização da espada obrigava a saber esgrima, para posicionar os pés na estocada.
Gente temerária e valente, como já não hà.
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