terça-feira, outubro 25, 2005

A ultima demagogia do Bloco de Esquerda



Comentário oportuno do rui a. no Insurgente
-Porque não, «imposto sobre as grandes reformas, para aumentar as poucas fortunas»?

Para reter

Porque são tão atractivos os ideais de esquerda?

Simplicidade - tudo é generalizado e simplificado; quando se detecta uma objecção a resposta é de que compete ao governo resolver.

Ambição com Idealismo - tudo é possível e tudo é alcançável a custo zero; o preço a pagar é normalmente com a riqueza dos outros.

Impaciência - tudo pode ser obtido imediatamente.

Infantilismo - sensação de pertença a um clube, a um grupo.

O abismo entre as gerações

Só é explicável porque no processo educativo a tradição cultural herdada de pais para filhos só tende a ser estável se o meio ambiente for estável.
Se o meio ambiente cultural for de grande mudança, a tradição cultural é difícilmente transmitida verticalmente de pais para filhos, como é tradicional nas sociedades clássicas, mas transversalmente através de outros meios mais apropriados, mais presentes, como a TV, os livros, ou a imitação de celebridades do ecrã, da política, do desporto e finalmente dos media.
Estes não são necessáriamente modelos de virtude.

domingo, outubro 23, 2005

Na ONU é tudo gente séria: se não acredita pergunte ao Freitas do Amaral

Segundo o Times de hoje a ONU omitiu vários factos relevantes que incriminariam (ainda mais) a Síria no assassinato de Hariri, devido a pressões de Koffi Annan.
Factos tais como eliminar os nomes do irmão e cunhado do Presidente Assad da Síria, como estando directamente implicados no assassinato do libanês Hariri.

segunda-feira, outubro 17, 2005

A IMPUNIDADE ANGÉLICA DO MARXISMO E A REALIDADE PARALELA VIVIDA NA EUROPA por Henrique Raposo

Transcrevo a totalidade do artigo porque é de não perder.

Se quer guardar ou ler o original compre a Revista Atlântico


Na Europa, volta e meia, alguém compara Bush com Hitler. Estas declarações não são acasos. São, isso sim, a ponta de um iceberg. Constituem manifestações radicais de algo pouco salientado: a persistência do marxismo após a queda do muro. E esta persistência contranatura é uma das bases da ilusão vivida na Europa; é uma das causas para a difícil “emergência do real”, ou seja, é uma das causas para o virar de costas europeu ao mundo global.





A interpretação cínica da História […]

surge hoje como sucessora directa da interpretação marxista.

Karl Popper





Nos últimos anos, Bush tem sido comparado com Hitler. Uma aberração. E a situação deixa de ser aberrante e passa a ser preocupante quando essas comparações vêm de países Centrais, como a Alemanha. A situação deixa de ser preocupante e passa a ser chocante quando se percebe que tem fins eleitorais. Recorde-se a campanha eleitoral de 2002, na Alemanha: a ministra da Justiça, Herta Däubler-Gmelin, comparou os métodos de Bush com os de Hitler. Gmelin é o símbolo de um certo ar do tempo que gosta de andar no fio da navalha; existe aqui uma tentação pelo risco, pelo abismo. Porque repare-se: é na Alemanha de Däubler-Gmelin que a América ainda tem milhares de soldados. E basta que a dita América retire esses soldados para que esta Europa impluda sem remissão.



Mas o que é ainda mais aberrante, preocupante ou chocante não é a mera existência das declarações. O que é realmente desesperante é o silêncio crítico. Tirando uma ou outra indignação isolada, declarações desta índole passam incólumes. São branqueadas, esquecidas e/ou risonhamente aceites. Como se fosse normal comparar a maior besta humana com a presidência da mais antiga democracia do mundo. E, mais grave, como se não existissem consequências para a estabilidade da aliança transatlântica e, por arrastamento, para a segurança da… própria Europa. As pessoas julgam que estão a ser impertinentes. Acham engraçado o cinismo que se lança sobre Washington. Estão tão ciosas desse cinismo ideológico que não percebem que estão a contribuir para a corrosão do mais importante laço estratégico da política mundial. (Ou será que estão conscientes do risco e é precisamente isso que querem?) Afinal, o que se passa aqui? Ninguém acha isto estranho? Por que razão ninguém tenta perceber o porquê das declarações e, acima de tudo, o silêncio acrítico da maioria? Este artigo procura perceber a mentalidade que está na base desta estranha atitude. É que dada a frequência de afirmações e insinuações deste tipo, só podemos concluir que não são acasos. Há aqui um padrão ideológico.



Em nosso entender, as declarações de uma minoria draconiana e o silêncio da maioria conivente são reflexos do seguinte: um processo de separação da Europa em relação à realidade global. A Europa como que se desligou da realidade mundial. Recusa-se a aceitar a inevitabilidade e a vitalidade da globalização. A política americana pós-11 de Setembro teve o efeito de reforçar a dimensão da política global (daí o ódio visceral lançado sobre Bush). E não estamos a falar do terrorismo. É certo que a Europa ainda não despertou a 100 por cento para um mundo de novas ameaças, ou seja, ainda não percebeu que o terrorismo islamita declarou guerra ao mundo ocidental. Mas, aqui, não estamos a falar disso. Não estamos a falar de ameaças, mas da própria estrutura do sistema internacional. A incompreensão ou a recusa da globalização pode conduzir a uma má colocação da Europa no sistema internacional de Estados. A Europa simplesmente parece não saber jogar no tabuleiro global. Por exemplo, os europeus ainda não perceberam que o centro de gravidade da política mundial está a desviar-se para a Ásia. E por que razão isto acontece? Por que razão a Europa está parcialmente cega em relação ao mundo de hoje? É o que tentaremos explicar nas páginas seguintes.





CINISMO DOS CHOMSKYS: MARXISMO SEM UTOPIA



Esta complicada relação que a Europa mantém com a Globalização terá, com certeza, várias causas. Uma delas, em nosso entender, é uma clara especificidade europeia pós-1989: a permanência do marxismo; contra todos os ventos da História, a grelha conceptual e moral do marxismo continua vigente na Europa. É disto que trataremos aqui.



Quando damos por adquirido a derrota do marxismo, estamos a cometer um erro. O marxismo continua vivo. E, se calhar, nunca teve tanta força. A legitimidade política do comunismo morreu, é certo. Todavia, a presença da epistemologia do marxismo é uma evidência. Não nos iludamos: o marxismo continua a ser um adversário ideológico. Aquela couraça aparentemente invencível, aquele esqueleto epistemológico que tudo explica, enfim, aquela forma de pensar mecânica e total continua a formatar a mente da grande maioria dos europeus. Há uma diferença entre História Política e História das Ideias. A consubstanciação política do marxismo foi derrotada na História Política, mas a ideia marxista permanece viva no mapa mental. Por outras palavras, o comunismo – projecto político – morreu, mas o marxismo – crença ideológica que marca a epistemologia – continua activo.



Como é isso possível? Karl Popper, antes de morrer, ainda teve tempo para nos elucidar a este respeito. A interpretação marxista da história cedeu o seu lugar à visão cínica da história. Melhor: a teoria marxista transformou-se na teoria cínica da História. A teoria marxista, sem a presença da Utopia como meta final, não passa de uma gigantesca Teoria da Conspiração. Passou-se do utopismo berrante e sonhador para um cáustico e cínico pessimismo (pessimismo em relação ao Ocidente, entenda-se). E este cinismo abrasivo é, precisamente, a interpretação preferida do ar do tempo aqui na Europa. Tudo é analisado e pensado na base do cinismo. Eis os raciocínios: Guerra do Iraque? Claro que é por causa do petróleo. Katrina? É óbvio que o capitalismo propicia aquilo. O Bill Gates é o maior filantropo do mundo? É óbvio que quer ganhar alguma coisa… não sabemos é bem o quê. Tudo é pensado na base da Teoria da Conspiração. Como é que pensa, por exemplo, Chomsky (o guru americano dos neomarxista europeus)? Através de uma gigantesca teoria da conspiração, onde umas quantas multinacionais conspiram para sugar as matérias-primas do mundo inteiro. Bom, muito bom mesmo, para os Ficheiros Secretos, mas demasiado medíocre para ser… verdade. Como é que milhões lêem sem pestanejar uma teoria intelectualmente tão indigente? Chomsky não passa de um marxista sem a cereja da utopia. O marxismo utópico, pré-1989, deu lugar ao marxismo cínico, pós-1989. É um marxismo sem sorriso. Mas, claro, esta nova teoria continua a arrumar o Indivíduo como simples títere de qualquer coisa. Antigamente, no tempo em que tudo era perfeito, quando ainda existiam utopias como a URSS, o indivíduo era controlado pelos ventos da História que conduziam todo o rebanho humano até ao Futuro da redenção. Hoje, com o sonho da Utopia destruído, sem uma meta redentora à vista, o Indivíduo, reza o politicamente correcto, é controlado por forças ocultas. A nível internacional, estas forças ocultas são compostas por um deus ex-machina neoliberal. Esta divindade capitalista, que nunca ninguém viu, vive, supostamente, em Wall Street. Nesta cínica cosmovisão, a ganância e a hipocrisia governamental das democracias liberais são os novos motores da história.



Também aqui encontramos um dos pilares do relativismo político e moral que tanto agrada às boas consciências. Se a Utopia não pôde ser alcançada, então, todos os regimes… são aceitáveis, seja o regime ‘X’ uma tirania ou não. Quando a Utopia não é possível, tudo se torna relativo. Isto tem o efeito perverso de colocar a democracia liberal no mesmo patamar de qualquer outro regime. Neste estranho mundo as ideias, os valores, os preceitos não contam. Tudo é ganância. Tudo é cifrão. Tudo é poder. Tudo é maldade. É como se o marxismo tivesse regredido até ao reaccionarismo negro de Joseph de Maistre. Há aqui uma brutalidade ontológica na forma de um ódio vital em relação ao Ocidente liberal. Nada de novo: o marxismo, em todas as formas que assumiu, sempre foi um projecto que ambicionava a destruição do Ocidente: “Marxism is not simply another political system, or one more ideology. It proposes nothing less than the end of the West” (Joseph Cropsey). Sem a carne da Utopia finalmente podemos ver aquilo que o marxismo sempre foi: um esqueleto metálico que visa destruir o Ocidente tal como o conhecemos. O marxismo é como aquele exterminador do filme: enquanto o seu alvo se mexer – o Ocidente liberal e pluralista

–, ele não vai parar. E mudará de aparência as vezes que forem necessárias. Esta nova versão – a cínica – é somente a nova (e não última) mutação deste maleável ópio intelectual.



E, atenção, uma geração inteira está a ser treinada nesta visão cínica, antiocidente e antiliberal. Como será o futuro da Aliança Atlântica quando esta geração, criada intelectualmente no espírito cínico da antiglobalização dos anos 90, chegar ao poder? Se a Aliança abanou em 2003, poderá muito bem ruir num futuro próximo. Que fazer então? Temos de combater este marxismo cínico, carrancudo e reaccionário tal como combatemos o marxismo sonhador, sorridente e utópico-totalitário. Temos de combater aqui no presente. No combate cultural, político, ideológico e estratégico. Mas, para que esta tarefa tenha hipóteses de sucesso, temos de recuar um pouco no tempo, a fim de anular as bases históricas deste marxismo cínico… Sim, temos de rebater o Marxismo Real, aquele que dominou a Europa de Leste durante a Guerra Fria. Não se pense que este regresso é um desperdício de tempo. Não se trata apenas de um caso de higiene histórica. Se a visão cínica tem tempo de antena é porque não se fez um levantamento crítico do passado marxista. Os cínicos, reis e senhores em 2005, legitimaram e defenderam senhores como Pol Pot, Mao e Stalin. Como é que alguém que protegeu as piores tiranias da segunda metade do século XX pode ser hoje um líder de opinião? Como é possível? O que se perdeu aqui? Resposta: perdeu-se a verdade histórica. Eis o ponto-chave aqui na Europa: a verdade histórica não veio ao de cima em 1989. Portanto, temos de revisitar o século XX. A História não é apenas um conjunto de factos do passado. A História é a forma como organizamos e valorizamos os ditos factos. A História determina a forma como vemos o presente e como projectamos o futuro. Se a maioria das pessoas, aqui na Europa, continua a olhar para o passado pelo prisma de mitos marxistas, então, estamos destinados a não perceber o mundo de hoje; um mundo dominado não por mitos marxistas mas por realidades liberais a uma escala global.





NUNCA O MARXISMO FOI TÃO PERIGOSO



Como é que os chomskys podem continuar de consciência tranquila depois de 1989? Porque o rescaldo histórico de 1989 não foi feito. Na década de noventa, de forma incrível, assistiu-se à propagação de uma série de lugares-comuns que visava (que visa) apagar as evidências de 1989. E as evidências eram (são) as seguintes: a) inapelável derrota histórica da ideologia marxista, acompanhada pela desumanidade dos regimes comunistas; e b) vitória do liberalismo, acompanhada pela incomparável superioridade e decência das sociedades liberais. Ora, neste momento, a Europa é constituída por uma legião de indivíduos a-históricos que desconhecem estas evidências. Parece que 1989 foi demasiado doloroso e, por isso, não foi aceite e assimilado. É como se 1989 tivesse deslizado ao lado da psique europeia sem lhe tocar. Freud consideraria este fenómeno como uma manifestação de forclusão. Pior: não se deu apenas a recusa de 1989. A situação é mais grave ainda: as brigadas de indivíduos a-históricos são enviesadas, de forma constante, pela ideologia… que perdeu o século XX. Como é que isto foi possível? Resposta: Ensino e Media.



O ensino público, sobretudo a nível das humanidades, assenta num esquerdismo dissimulado. Aquilo que é ensinado como facto – além da dúvida e questionamento – é, na verdade, uma interpretação. Uma interpretação mais do que duvidosa, fruto da ideologia que massacrou e perdeu o século XX. E as pessoas assim vão crescendo com o pronto a pensar marxista na cabeça. São marxistas sem o saberem. E, claro, esta situação reflecte-se nos media. A agenda deste marxismo ressentido é aceite acriticamente no meio jornalístico. Os media, sobretudo a rádio e a TV, deixaram de ser mediadores da realidade. São emissores de clichés e fórmulas de explicação instantânea. Navega-se numa realidade paralela. E nesta realidade mediática reina um novo Komintern: o Politicamente Correcto. Mas afinal o que é o politicamente correcto? A nossa resposta: o Politicamente Correcto é um conjunto de pequenos dogmas que resultaram na explosão do grande dogma marxista. Imagine-se um filme de ficção científica. Imagine-se uma cena que consiste na explosão de um planeta; depois da explosão, vemos toda aquela poeira a espalhar-se pelo cosmos. Pois bem, o filme de ficção é o ambiente intelectual europeu pós-1989; o planeta é o marxismo e a poeira posterior é o politicamente correcto. E o jornalismo de massas, através desta poeira, cria uma actualidade completamente enviesada pelo marxismo, quando lá fora a realidade mundial está naturalmente marcada pela vitória do liberalismo. Existe, portanto, um abismo de percepção entre as convicções do europeu e a realidade global do Chile à China. Na Europa, os europeus vivem numa cápsula dum tempo irreal sem qualquer ligação ao resto do mundo.



Esta realidade paralela só é possível porque as bases históricas do debate europeu estão completamente enviesadas por mitos. O debate intelectual europeu ainda não assenta na verdade histórica de 1989. Se um marciano chegasse à Europa neste momento, diria que foram os liberais os responsáveis pelos milhões de mortes dos gulagui. Mais: diria que 1989 representou a vitória do comunismo. Pela primeira vez na História, aqueles que perderam um grande confronto político-ideológico são aqueles que ficaram na posição cimeira. Os marxistas perderam a batalha política mas venceram a guerra ideológica. A História não está a ser escrita pelos vencedores. Marx perdeu, mas Gramsci vence todos os dias. Perdão: Gramsci vence-nos a cada hora que passa nas escolas, nas rádios, nas televisões. Será que ainda ninguém reparou que os valores do marxismo são hoje o senso comum da Europa? Este senso comum marxista, repetimos, é o chamado politicamente correcto. E, por isso, nunca o marxismo foi tão perigoso. Detém a hegemonia ideológica quer a nível do debate sobre política internacional (a tal teoria cínica da História que coloca a malfazeja América como centro negativo de tudo o que se passa no mundo) quer a nível do debate interno (os dogmas do politicamente correcto). No passado, o marxismo estava identificado com Estados. Hoje, sem esses Estados, o marxismo espalhou-se, perdeu o rosto visível. O marxismo já não é política. É cultura. É hábito. Falhou o ataque frontal, mas começou a flanquear-nos pelos poros da cultura e dos automatismos emocionais que dominam os media. O marxismo deixou de ser um missionário frontal e directo que entrava pela porta da frente e passou a ser um sedutor que entra pela porta das traseiras.



Enfim, nada se aprendeu sobre a natureza do totalitarismo. E tomemos o Muro como referência. Fala-se sempre da sua queda, mas esquecemo-nos sempre da sua… construção. A edificação do Muro de Berlim é a prova máxima da natureza tirânica do comunismo. Como salienta Revel, “o que marca o fracasso do Comunismo não foi a queda do muro de Berlim em 1989, mas sim a sua edificação em 1961”. 1989 foi a consequência quase natural de 1961. Mas, por incrível que pareça, o significado das duas datas não foi compreendido pela maioria dos europeus. E esta é a maior fraude intelectual do nosso tempo: não se verificou a necessária crítica do passado totalitário derrubado em 1989 e indiciado em 1961. Até prova em contrário, 1989 não teve consequências na atitude europeia perante o mundo liberal e, mais grave, perante a forma como se olha para o passado marxista. Contra todas as evidências, o liberalismo continua a ser visto como um perigo. Em 1945, o fascismo perdeu qualquer legitimidade. Em 1989, seria de esperar que o mesmo sucedesse com o marxismo. Quem esperou, esperou sentado. Não só o marxismo não perdeu legitimidade, como foi o liberalismo a ver a sua legitimidade atacada.



Mas por que razão existe tanto despeito por 1989? O maior fantasma dos marxistas é a comparação entre comunismo e nazismo. Nazismo e comunismo foram idênticos na organização do Estado. O totalitarismo do estado nazi foi copiado do modelo soviético. Ainda na década de quarenta, Von Mises e Hayek perceberam logo as semelhanças dos dois programas económicos. Mais: os dois regimes partilharam o mesmo ódio em relação aos regimes demoliberais. As duas correntes aproveitaram-se daquilo que Ralf Dahrendorf descreveu na perfeição: a sociedade aberta liberal é apenas uma frágil atadura, isto é, um projecto frio que respeita o indivíduo e que recusa finais épicos e emocionantes para o Colectivo. Um regime (nazismo) foi destruído pelas armas; o outro regime (comunismo) foi destruído pela história. O primeiro é, felizmente, terra maldita, o segundo é ainda respeitado. É nesta dualidade de critérios que ainda assenta a mitologia histórica europeia. E poucos são aqueles que abordam esta questão. A maioria tem medo. Porquê? Resposta: de forma incrível, a linguagem do Komintern ainda funciona, isto é, aquele que critica o marxismo e que compara o comunismo com o nazismo sabe que será apelidado de fascista. É uma armadilha infantil? Certo. Mas tem funcionado. Mas já é mais que tempo para pôr cobro a esta infantilização do debate. É preciso, por exemplo, seguir as pisadas do historiador alemão Ernst Nolte: a criminalidade soviética “é literalmente posta entre parênteses e apresentada como pura e simplesmente inexistente”. Ou seja, um massacre provocado por um ditador dito fascista é mesmo um massacre, mas um massacre provocado por um ditador comunista não é um massacre mas um passo em frente (tal como era visto na altura) ou como um infeliz erro que nada tem que ver com a ideologia (tal como é visto hoje).





A IMPUNIDADE DOS ANJOS



Para os marxistas, o Gulag foi apenas um curto-circuito no sistema. O Gulag continua a não ser considerado como uma consequência directa e inevitável do marxismo. E aqui chegamos a um ponto-chave: as boas consciências recusam assumir que a URSS foi a verdadeira e inevitável consequência política da teoria marxista. Os factos (Gulag, miséria, tirania, nomenclatura, etc.) são considerados como erros ou acasos e não como resultados lógicos do sistema fechado projectado por Marx e Lenine. Quem recusa a evidente ligação entre a luminosidade ideal do marxismo e o negrume real da URSS, deveria prestar atenção ao seguinte: o marxismo sacralizou a economia planificada. Perdeu rotundamente no terreno que escolheu. Nunca nada foi tão óbvio, tão previsível, tão lógico. Houve uma ligação directa entre o marxismo e a URSS. A luminosidade não pode ser ilibada. É um facto. Não é interpretação. Acreditamos no pluralismo epistemológico, mas há factos que não são maleáveis. E eis um dos factos insofismáveis do século XX: “O comunismo, que nunca concebeu outro tribunal além do da História, viu-se condenado pela História a desaparecer sem deixar rasto. O seu fracasso é, portanto, irreversível.” (François Furet)



Mas nada disto interessa aos marxistas. Porque o marxista, por definição, não reconhece autoridade aos outros homens; não admite que não-marxistas critiquem o marxismo. Apesar de derrotado, o marxista continua imune ao exterior. É essa a natureza deste ópio intelectual: é uma verdade interna que permite a constante impunidade daquilo que se diz, porque não há contacto com o exterior. O marxismo é uma máquina de ilibação. Não se aceitam críticas nem factos inconvenientes. Tudo o que interessa é o estado de pureza da verdade. Após a queda do Muro, os discípulos de Marx recusaram aceitar a evidência histórica e refugiaram-se na pureza do ideal. Isto é, continuaram a dizer que o ideal é benigno; foi apenas desvirtuado pelos homens reais. Não houve anulação histórica mas um desvirtuamento ideológico. Subtil, não?



E esta fuga para a esfera do ideal procura esconder uma evidência: “O comunismo foi uma coisa bem diferente e bem pior do que uma ilusão: foi um crime.” (Revel) Ter sido comunista foi ter sido cúmplice dum crime colossal contra a humanidade. Mas, após 1989, eis o segredo marxista, desenvolveu-se uma impossibilidade física e moral: o comunismo deu origem a crimes sem… criminosos. O princípio da causalidade deixou de existir. O passado comunista transformou-se num gigantesco baile de máscaras, onde ninguém é ninguém e onde ninguém é responsável por aquilo que se passou. Como é óbvio, despreza-se aqui as mais importantes categorias morais conhecidas. Corta-se qualquer relação entre causa e efeito e entre agente e acção. Os efeitos conhecidos (ex: milhões de mortos) não tiveram causa humana. As acções conhecidas (ex: Gulag) não tiveram sujeito humano. É como se o Gulag tivesse sido uma catástrofe natural como um tsunami ou terramoto. Isto é um insulto para quem morreu. Milhões. E, acima de tudo, é um insulto para os milhões que ainda vivem debaixo do jugo do marxismo real.



O marxismo, como todas as utopias do passado e do futuro, cria esta ilusão: as pessoas que se deixam encantar julgam que têm a chave do mundo, a chave da máquina do tempo, enfim, julgam que são senhores do Futuro. Ora, com este futuro debaixo do braço, o marxista consegue fazer duas proezas, impensáveis para qualquer outro mortal: I) No pré-1989, as barbáries terrenas que produziu foram sendo legitimadas com a chegada desse Futuro; os massacres e gulagui não eram crimes de massas mas a remoção dos obstáculos para o advento da Utopia; II) No pós-1989, perante o rasto bárbaro do comunismo, depois de perceber que, afinal, o Futuro não chegou, o marxista afirmou que não pode ser julgado e criticado porque o trágico resultado do comunismo não era o seu… objectivo final. O seu objectivo era o Futuro, era a Utopia, por isso não pode ser criticado. Só aceita ser julgado pelo Futuro. Como o Futuro nunca chega, nunca pode ser julgado. Brilhante, não? Ora, o marxismo é um brilhante mecanismo que garante impunidade moral e intelectual num regime ad eternum. É um condomínio de luxo que permite viver acima do bem e do mal.



Mas, tenhamos consciência disso, é este o velho ardil das utopias. Aos olhos do utópico, os factos que resultam da aplicação da utopia não provam a falsidade da mesma. O Futuro é sempre o álibi do totalitário (vulgo: utópico). Enfim, os marxistas não se julgam seres históricos. São anjos a pairar acima da realidade histórica. Os físicos e astrónomos falam de um fenómeno curioso que ocorre no espaço: a insustentabilidade, isto é, a ausência de gravidade. O marxista é assim. Vive sem gravidade histórica. Não é um dos nossos. É um anjo. Vive em insustentabilidade histórica e moral. Flutua acima do bem e do mal. A Utopia não respeita qualquer critério exterior. A Utopia é uma palavra bonita para aqueles que querem viver em impunidade. Eis, enfim, uma das razões para a subsistência do marxismo após 1989: resiste como forma de impunidade moral e intelectual.



Mas, atenção, esta impunidade não serve apenas para alívio da consciência histórica. Não sejamos ingénuos. O desligar do marxista em relação ao seu passado tem outro grande objectivo: o ataque ao mundo que venceu em 1989. Portanto, o marxismo sobrevive enquanto negação da vitória liberal. Sobrevive enquanto doutrina politicamente correcta que ataca a dita globalização.



Com a impunidade garantida, aqueles que deveriam ter sido os réus do século XX passaram inesperadamente para a cadeira de juiz. E a crítica ao liberalismo tornou-se assim numa moda intelectual. Numa década de contorcionismo histórico (anos 90), aquele que deveria ter sido o momento do arrependimento dos cúmplices do comunismo transformou-se num processo, porventura, inédito: a História começou a ser julgada pelos… vencidos. Como muito bem sabia A. Camus, a ideologia “pode servir para tudo, até para transformar os assassinos em juízes”. Tenhamos o seguinte em mente: os filhos do iluminismo continental podem até ter uma concepção (supostamente) ingénua do Homem, mas, atenção, são frios e brilhantemente maquiavélicos na conquista do poder, na conquista do poder intelectual, do moral high ground. Desligaram a ideologia marxista dos regimes comunistas reais para que o marxismo pudesse continuar a ser uma chave de interpretação válida, para terem a possibilidade de usar o marxismo no combate pós-1989. Por outras palavras, a impunidade marxista permitiu a emergência do movimento antiglobalização. Hoje, os mesmos que apoiaram a URSS são os mesmos que lideram o combate à globalização. De consciência tranquila. Como se não tivessem apoiado regimes que massacraram milhões. E assim regressámos ao nosso ponto inicial, à tal visão cínica da história. Mas que fique assente: para se debater o emergente século XXI, é fundamental compreender as catacumbas históricas do século XX e, talvez mais importante, é essencial desconstruir alguns truques de ilusionismo ideológico. Até porque os truques continuam activos.





GLOBALIZAÇÃO NO LUGAR DO FASCISMO



A teoria cínica da História baseia-se em dois mitos: a América Imperial e a Globalização predadora. Dois fantasmas constantemente agitados. Significam a mesma coisa: ódio ao cosmopolitismo liberal, à fluidez do mundo global. Em conjunto, estes dois espectros constroem o mais velho e derradeiro truque do marxista: a vantagem moral. Tal como no tempo da Guerra Fria, o marxista mantém o monopólio das senhas da moralidade. Tem o controlo exclusivo da Moral no vocabulário político. Hoje, os impropérios neoliberal e globalização substituiriam o jurássico fascista. O termo neoliberal é atirado para o ar com uma carga de pecado. Quem verbalizava o termo fascista com arrogância suficiente era, de imediato, aceite na terra sagrada dos virtuosos. Hoje, quem verbaliza o termo neoliberal passa a entrar no sacrossanto clube da antiglobalização. Quem for o alvo da verbalização é, naturalmente, um Ser ilegítimo. A sua palavra não merece ser ouvida. Em suma, após 1989, a moral europeia tem sido fortemente politizada. Costumamos descrever esta moral politizada por clichés marxistas com o conceito vago de politicamente correcto. E o resultado actual deste politicamente correcto é o seguinte: compara-se a perfeição daquilo que nunca existiu – a Utopia – com a imperfeição daquilo que existe – regimes demoliberais.



E, assim, com esta dualidade de critérios politicamente correcta chegámos, finalmente, ao nosso ponto central: a constante agitação destes mitos, facilmente assimiláveis pela TV, em aliança com a aparência de superioridade moral desta visão neomarxista, produziu um conjunto de frágeis asserções que põem em causa não só o bem-estar dos europeus, como também a posição estratégica e a segurança da Europa. Esta visão neomarxista criou uma realidade paralela composta por duas enormes fragilidades analíticas: I) O capitalismo é selvagem. Nada poderia ser mais errado. O mercado pressupõe o Direito. O mercado funciona sobre a alçada da Lei, do Contrato. Dada a vigência desta asserção torna-se quase impossível, por exemplo, adaptar as estruturas do estado social às condições económicas e demográficas de hoje; II) O liberalismo é apontado como causa dos males do chamado Terceiro Mundo. Mais uma vez, os marxistas invertem a realidade. Os problemas das economias do Terceiro Mundo não se devem a um excesso de liberalismo, mas sim ao inverso. O problema de África não é a globalização mas a falta da dita. As potências do (outrora neomarxista) movimento dos não-alinhados já começaram a perceber isto. Os alterglobalistas deveriam reflectir sobre estas declarações: ‘X’ “is proud to identify with those who defend the values of liberal democracy across the world”. Quem é ‘X’? A Índia. As palavras são de M. Singh, o primeiro-ministro indiano. Ou seja, o país ex-líder dos não-alinhados alinha o seu país com a hedionda globalização. Por que razão não se fala da Índia na Europa? Má-fé. Tal como no passado, a má-fé (desejo de viver apartado da realidade, desprezando os factos que negam a verdade) continua a ser o instrumento predilecto de marxistas.



Estas duas frágeis asserções originam um grave problema ideológico e estratégico: a incompreensão completa do mundo global. Quando não se percebe a realidade que nos rodeia, estamos destinados a não tomar as medidas estratégicas necessárias. E no mundo global algo começa a desenhar-se: a aproximação entre os grandes espaços demoliberais. A Índia não se assumiu apenas como potência liberal. A Índia é a nova grande aliada dos EUA. E esta aliança estratégica, revolucionária no sistema internacional, não mereceu qualquer atenção aqui na Europa. Porquê? Porque, simplesmente, os europeus vivem de costas voltados para o mundo global. No mais recente documento estratégico dos EUA (National Defense Strategy, 2005), declara-se o seguinte: “We will expand the community of nations that share principles and interest with us. We will help partners increase their capacity to defend themselves and collectively meet challenges to our common interest.» A América quer dar sustentabilidade política e estratégica à globalização económica. Por isso, procura aliar-se ou reforçar as alianças com as grandes potências demoliberais do mundo: México, Brasil, Chile, África do Sul, Israel, Índia, Japão, Austrália, Nova Zelândia, etc. Quando lemos os documentos estratégicos destes países, tomamos consciência de que já perceberam a nova realidade global e afirmam, sem ambiguidade, a sua lealdade aos valores liberais. Repetimos: sem ambiguidade. E ambiguidade é coisa que não falta na nossa Europa. Vai a Europa ficar afastada desta emergente estratégia de alianças demoliberais? Vai a Europa ser substituída pela Índia ou pela Austrália enquanto aliado primordial dos EUA? Porque a par da manifesta incompreensão e cegueira em relação ao mundo global, muitos europeus continuam a pôr em causa a Aliança Atlântica. A vaidade da velha aristocracia intelectual marxista não suporta a aliança com a maior potência liberal do mundo. Declarações como aquela que indicámos no início deste texto são reveladoras de uma ambiência antiamericana cada vez mais evidente. A América, a civilização liberal, é odiada por duas razões: I) O seu sucesso liberal é, por si só, a negação do marxismo, o de hoje e o do passado; II) Ao reagir ao 11 de Setembro, a América tem relembrado à Europa que existe um mundo lá fora. E a Europa, simplesmente, não quer acordar para o mundo global.



Isto leva-nos ao ponto final da nossa argumentação. A Europa está a navegar contra os ventos históricos do início do século. Por outras palavras, a Europa começa a dar sinais de resistência a um fenómeno que todas as outras regiões aceitam de bom grado: a dita globalização. Por que razão os europeus dão mais atenção à Venezuela de Chávez que à Índia de Singh? Ou, já agora, por que razão não se fala do sucesso do Chile? Por que razão não se discute a Ásia? Por que razão ainda não se percebeu que o centro de gravidade da política mundial se transferiu para a nova Meca do liberalismo, a Ásia? A Europa ameaça fechar-se sobre si mesma. O último referendo realizado em França é um sintoma deste fechamento. Porquê? A base argumentativa dos dois lados do debate foi a mesma: a recusa da globalização e a mistificação do modelo liberal anglo-saxónico. O “Não” antiliberal venceu. A outra opção era um “Sim”… antiliberal. O resultado seria sempre negativo para o futuro da França e da Europa.



Na Europa, devido à persistência do marxismo, tudo acaba por ser ideológico (no mínimo) e mitológico (no máximo). E nunca nada é político. A Política, no sentido clássico (gestão do presente, em constante adaptação às circunstâncias e na certeza de que o futuro é contingente), desapareceu. Tenhamos, novamente, Chomsky como referencial. Na América, Chomsky é aquilo que sempre foi: um dissidente revolucionário, que faz da polémica pouco substantiva a sua forma de intervenção política. Na Europa, Chomsky é senso comum. Está aqui o abismo. Está aqui o problema.





O MUNDO GLOBAL NÃO ESPERA



Quando se aceita um ambiente intelectual que celebra, entre dentes, a impertinência socialista de Hugo Chávez e que, simultaneamente, insulta, sem pudor, a América, então, estamos perante uma ambiência que não percebe nada do mundo em que vive. Se queremos um século XXI decente, ao nível do que tivemos na segunda metade do século XX, temos de fazer aquilo que nunca foi feito de forma sistemática e concertada: derrubar os mitos marxistas, os de hoje e os de sempre. Se permitirmos a continuidade do baile de máscaras marxista, então, a Europa nunca conseguirá enfrentar na plenitude os desafios do século XXI. Se não fizermos isto, não estaremos a ser apenas cobardemente convenientes. Estaremos a ser, acima de tudo, irresponsáveis em relação às gerações futuras. O mundo não espera por nós. Ou será que ainda não percebemos que o centro do mundo já não é a Europa? A Europa não tem lugar marcado na História das grandes civilizações. Tem de lutar por ele. Como? De muitas maneiras. E primeira é a seguinte: temos de pôr fim ao actual abismo epistemológico. Os europeus não podem continuar a percepcionar um mundo liberal através de lentes marxistas. Isto é uma fórmula para um desastre. Um desastre em câmara lenta, mas um desastre. Se a Europa não deitar fora essas lentes, está destinada a ser ultrapassada pelas potências demoliberais emergentes, ou seja, pelas suas ex-colónias.



Em suma, a “emergência do real” (Joaquim Aguiar) só ocorrerá quando colocarmos o marxismo no museu da história ideológica. Do ponto de vista intelectual, a guerra fria ainda não acabou na Europa. A batalha política acabou em 1989, mas a batalha cultural e ideológica continua activa. Quando a guerra fria acabar pela segunda vez, então sim, estaremos prontos para o século XXI. Em 1989, o comunismo suicidou-se como projecto político. Hoje, perante os desafios e ameaças do mundo global, temos a obrigação de forçar o marxismo a cometer suicídio enquanto solução epistemológica.



Gibbon afirmou que o Império Romano foi corroído a partir do seu interior pelo cristianismo. Disso nada sabemos. Mas de uma coisa estamos certos: o marxismo corrói a cada minuto a civilização europeia e a sua capacidade para interagir com um mundo global. Voltamos a frisar: a Europa não tem lugar marcado na História. Tem de lutar por ele. Mas isso só vai suceder quando tivermos conquistado um ambiente intelectual no qual a comparação sinistra entre Bush e Hitler deixe de ser um hábito demagógico e passe a ser aquilo que é na verdade: um escândalo e um perigo. Um escândalo ideológico e um perigo estratégico. Se queremos acordar para a realidade, se queremos vencer no século XXI, temos de pôr ponto final na impunidade dos anjos. É isto ou a decadência.

quinta-feira, outubro 13, 2005

Coisas de que os jornais não falam

Não resisto a copiar este post sobre a corrupção nas Nações Unidas, um assunto que me é querido, porque explica muitas das decisões nas votações do Conselho de Segurança.

Axis of Bribery

This story came out yesterday, and we just haven't gotten to it: France's former Ambassador to the U.N., who also served as Kofi Annan's "special adviser," has been indicted by French authorities for "influence peddling and corruption of foreign officials." The official, Jean-Bernard Merimee, is alleged to have received kickbacks in the form of oil allocations from Saddam Hussein as part of the Oil-for-Food fraud.

Merimee is one of those imposing, sophisticated Continental bureaucrats of whom John Kerry and the Democrats in general are so much in awe. It is people like Merimee who would have decided, in a Kerry administration, whether the United States had passed the "global test." Thankfully, that day never arrived, and Merimee won't do much "testing" from a French prison.

You have to wonder, though. Annan's son and "special adviser" were corrupted by Saddam, along with several other U.N. officials-(lembram-se de Benon Servan?)-and those are just the ones known so far. On the French end, Merimee, the U.N. ambassador; Interior Minister Charles Pasqua; Patrick Maugein, a friend of Jacques Chirac, and others apparently were on Saddam's payroll.

But it didn't matter! The French government assures us that there was "'no link' between French diplomats' alleged contacts with Saddam's regime and France's decision not to support the U.S.-led war in 2003 that toppled the Iraqi dictator."

Well, that's certainly a relief. Sometimes when people pay bribes they expect results in return. But Saddam apparently wasn't that kind of guy.


NB: Merimée é já o segundo antigo diplomata francês a ser investigado sobre corrupção e tráfico de influência no Iraque; primeiro foi o ex-Secretário Geral do Ministério dos Negócios Estrangeiros francês, Monsieur Serge Boidevaix.

Os sublinhados são meus.

quinta-feira, outubro 06, 2005

A Caixa de Pandora do regime

Durante anos soubemos que havia qualquer coisa que estava podre no reino do Portugal de Abril e que só isso explicava a obstinação com que por todos os lados se defendiam situações aparentemente indefensáveis.

Graças aos blogues foram-se descobrindo pouco a pouco os insuspeitados privilégios de que beneficiam os defensores do regime.

Começou com os políticos. Depois vieram os polícias, a GNR, os militares, de todos os lados, os magistrados, os professores, os funcionários públicos em geral, os jornalistas, e outros avulsos.

Foi aberta a Caixa de Pandora.

Se isso se deve a uma acção involuntária do Primeiro Ministro ou a uma acção propositada do Governo maioritário do Partido Socialista (neste caso muito pouco auxiliado pela oposição social-democrata e democrata-cristã), ainda é um mistério, que convirá elucidar para esclarecimento das gerações futuras. A verdade é que não parece haver modo de parar a avalanche de denúncias que ter aparecido, e que não parece ser possível abafar.

Isto no mundo dos blogues.

No mundo da opinião pública escrita, amansada, a procissão ainda vai no adro, ou seja mal começou.

No mundo da TV, onde os portugueses vão buscar a informação que condiciona o seu voto, ainda não se viu nada. O seu silêncio amestrado é de ouro, e revelador da força das máfias.