sexta-feira, dezembro 29, 2006

Analfabetismo funcional

Uma amiga, professora de liceu, contou-me hoje ao almoço, a propósito da desgraça do sistema educativo, que pediu aos seus alunos do quinto ano (média de idades de dez anos), que dividissem uma folha de papel A3 em branco em três partes iguais com um risco vertical. Só dois foram capazes de entender o pedido, e só cinco de concluir o trabalho.

Etiquetas:

sexta-feira, dezembro 22, 2006

Ignacio Ramonet é um pulha!

Vi hoje à venda numa livraria de Lisboa um livro de cerca de 800 páginas, e traduzido para português, da autoria de Ignacio Ramonet, sobre a vida e obra de Fidel Castro.

Com o que se sabe hoje sobre a miserável ditadura cubana, um homem que escreve um livro laudatório sobre esse bandido só pode ser um pulha.

Etiquetas: ,

Mingalabah!

A Birmânia de hoje não é aparentemente muito diferente das descrições de Orwell. Estradas más, carros com mais de trinta anos, todos da mesma cor branca revelando a sua proveniência de velhos taxis japoneses, alguma motorizadas chinesas, muitas, muitas bicicletas, muita gente a pé, muita pobreza, mas sem qualquer miséria, sujidade ou sinais de fome. Uma religião omnipresente nos monges e nos templos que nos cercam por todo o lado para onde se olhe. Uma religião pacífica, mistura de budismo com animismo, que acredita que cada um tem o seu destino traçado. O paraíso dos astrólogos: o mundo gira à volta das lições do Buda e o espírito dos nats, que é por eles revelado. Um estado centralizador e autoritário onde é preciso licenças para tudo: para ter frigorífico ou ferro de engomar, ou rádio, ou gravador, ou mais de duas lâmpadas em casa, onde é necessária licença para viajar para outra província ou outra cidade, onde não existem absolutamente nenhuns cuidados de saúde, ou bancos, ou cartões de crédito, telemóveis ou Internet. Onde as escolas são todas públicas. Onde o direito à propriedade pode ser a qualquer momento revogado por qualquer obscuro interesse superior. Onde não existe qualquer reconhecimento de direitos da pessoa humana. Os militares estão por todo o lado, impecavelmente fardados ocupando os melhores lugares, as melhores casas, os jardins e campos de golfe mais bem tratados, e os melhores carros. Eles sim, podem comprar telemóvel no país onde o telemóvel custa mil dólares e o salário é de doze dólares por mês. Quase o paraíso cubano. A inflação é galopante mas ninguém parece saber que a inflação é obra do governo, julgam que é uma coisa estranha que aparece por acaso. A ignorância económica e política é total. Os jornais falam de futebol, e da paixão dos Birmaneses pelo Arsenal e Manchester United (Portugal? Cristiano Lonaldo very good player!), e de crime. Não é permitido falar ou escrever sobre quaisquer assuntos políticos.

O governo militar é financiado e apoiado pela China que está presente em todas as obras, todas as construções, todo o comércio. Na era do cimento, uma nova ponte de dois quilómetros sobre o rio Irawaddy em Mingun, está a ser concluída em ferro, como no século dezanove. O destino da Birmânia, é o de tornar-se uma colónia chinesa a médio prazo.



NB: Um interessante guia para a Birmânia (além do sempre útil Lonely Planet Myanmar/Burma, edição de 2005), e do Guide du Routard, foi o essencial Further India de Hugh Clifford (a minha edição é de White Lotus Co., Bangkok 1990, 378 páginas). Publicado pela primeira vez em 1904, o autor, acérrimo defensor do sistema colonial britânico, descreve de um modo isento para a época, a epopeia do desbravamento destes territórios por parte dos ocidentais, desde a chegada dos árabes, dos primeiros conquistadores portugueses como Albuquerque e outros (the Filibusters), dos primeiros exploradores com nomes que me eram totalmente desconhecidos como António de Faria, António de Miranda, Duarte Fernandes, Ruy de Araujo, Francisco Serrano, António de Abreu, Pedro Afonso de Loroso, e o conhecido Fernão Mendes Pinto, dos grandes exploradores franceses como Mouhot e o famoso Fancis Garnier a quem se atribui erradamente a descoberta dos templos de Angkor Vat, dos holandeses e finalmente dos inúmeros ingleses.

O termo de filibusteiros aplicado aos primeiros exploradores portugueses, tem a sua razão de ser pelo facto de serem, de todos os povos que exploraram o sueste asiático, os portugueses os únicos que construíram fortes, impuseram a sua religião, e comercializaram pela força. Até à chegada dos portugueses eram os árabes os únicos cuja influência se alastrava até ao oriente, e tinham como princípio nunca se imiscuir na politica local. O sucesso dos holandeses e ingleses que vieram depois de nós deveu-se simplesmente ao facto de só quererem o comércio, nunca as terras nem as almas das gentes. A colonização veio depois...

Essa perspectiva é para mim nova, nascido e criado no mundo paroquial da epopeia quinhentista da História de Portugal do Adolfo Simões Mueller. Fui pela primeira vez confrontado com essa realidade há poucos anos atrás em Goa, ao ler num jornal uma opinião crítica sobre Vasco da Gama que me atingiu profundamente, como se tratasse de uma ofensa pessoal.

De todos os modos um livro essencial sobre o Sudoeste Asiático.

Etiquetas: , ,

domingo, dezembro 17, 2006

Burmese Days

Foi o primeiro romance de George Orwell, e foi publicado em Nova Iorque em 1934, com receio do escândalo que as afirmações polémicas do autor sobre o colonialismo britânico , pudessem ter sobre a então jovem promessa das letras britânicas. Felizmente que não era homem para se preocupar com isso.

Burmese Days (ed. Penguin Classics, Londres, 2001, 300 páginas) conta-nos a história triste de um jovem colonialista inglês na Birmânia, demasiado ligado ao país para poder voltar à sua pátria, mas incapaz de se adaptar ao sistema colonial em vigor, apesar de passar os seus dias no Clube Europeu, onde não havia contacto com os "nativos", imigrantes indianos ou birmaneses de origem. Mal consigo, e mal com o seu país adoptivo, acaba por se apaixonar por uma recem chegada jovem inglesa à procura de marido, que após um breve romance o troca por outro, pelo que o infeliz acaba por se suicidar com um tiro no peito quando vê que o seu amor não é correspondido, e que a sua vida não tem mais sentido.

Orwell não consegue fugir da maldição de que acusa os seus compatriotas, porque as suas descrições da vida no Clube Europeu são muito mais vivas e felizes do que as imagens que nos tenta dar da vida da Birmânia dessa época, o que demonstra que os cinco anos que viveu como polícia na Birmânia, foram também eles anos de vida à europeia, talvez porque o fosso que o separava dos nativos era colossal e intransponível.

Etiquetas: , ,

Apito Dourado

Nada sei nem me interessa o futebol. Mas a nomeação de Maria José Morgado, para procuradora de um assunto menor, num caso de corrupção minúsculo, ainda que mediático, é a prova de que se pretende esconder o fenómeno da corrupção generalizada que se vive no coração do Estado, com uma cortina de fumo digna de "A Bola". E é menos um magistrado competente na arena.

Etiquetas:

Coisa excepcionias que se passam impunemente neste país

O comunicado nº 7/2006 da ERC, Entidade Reguladora da Comunicação Social, eufemístico nome dado agora à antiga Autoridade Reguladora, sobre o caso Eduardo Cintra Torres no Público, e o ataque descarado ao director do jornal, é revelador de uma atitude autoritária, fascista, totalitarista, patronizadora, de como se deve comportar a Comunicação Social. Os senhores do Conselho Regulador da referida Entidade, a saber

Presidente Prof. Doutor José Alberto de Azeredo Lopes
Vice-Presidente
Dr. Elísio Cabral de Oliveira
Vogal
Prof. Doutora Maria Estrela Serrano
VogalDr. Luis Gonçalves da Silva
Vogal
Dr. Rui Assis Ferreira

deviam-se demitir ou ser imediatamente demitidos, só e apenas pelas brutalidades que subscreveram.

Subscrevo a propósito disso a opinião expressa por Pacheco Pereira sobre o assunto: é a favor da minha liberdade de escrever o que penso, sujeito apenas à lei comum nas suas consequências, e não dou à ERC qualquer direito de censurar, adjectivar ou ironizar sobre as minhas posições. Aceito isso de qualquer leitor, com razão ou sem ela, não do Estado.

Etiquetas: , ,