quinta-feira, junho 08, 2006

A falácia do Modelo do Estado Social

Pode ser explicada por exemplo assim*:

você gasta ........................................e com quem gasta

..................................................consigo.......com outro(s)

o seu dinheiro ..............................1...............................2

o dinheiro de outro(s) ..................3.............................. 4



1.assim se você gasta o seu dinheiro consigo: vai ao supermercado e tenta economizar o mais que pode para que o seu dinhero seja valorizado.

2. se você gasta gasta o seu dinheiro com outro(s): vai dar um presente de aniversário. O seu dinheiro deve ser valorizado para justificar o presente oferecido.

3.você gasta o dinheiro de outro(s) consigo: é convidado para almoçar por outro(s). O seu incentivo não é tão forte para poupar, mas apenas para dar um bom valor ao dinheiro gasto consigo.

4.você gasta o dinheiro de outro(s) com outro(s): o seu incentivo também não é o de poupar, mas apenas o de satisfazer o(s) outro(s). Se você nem sequer conhece o(s) outro(s) pessoalmente, o seu incentivo de o(s) satisfazer é ainda menor.

O Estado Social cai naturalmente nas categorias 3 e 4.

*in Free to Choose por Milton e Rose Friedman (ed. Pelican Books, 1979, 386 páginas).

Hoje, Dia Mundial dos Oceanos

quinta-feira, junho 01, 2006

Coisas de que se não fala

Quando o meu irmão me confidenciou que tinha de se deslocar em trabalho à Venezuela, não uma, mas muitas vezes este ano, fiquei apreensivo e contei-lhe algumas histórias que se passaram comigo em trabalho, nesse país há vinte e cinco anos. O meu irmão riu-se e contou-me que apesar de andar com guarda-costas, se sentiu sempre seguro. E contudo a Venezuela é um país perigoso. Muito perigoso. Há mais homicídios por mil habitantes na Venezuela do que no Iraque. 31 homicídios por cada 100.000 habitantes contra 26. Aliás há mais homicídios na Africa do Sul (50) ou na Colombia (62) , ou em muitas outras cidades do que no Iraque.

Não é essa claro, a imagem que nos é dada pelos media, mas naturalmente a de um Iraque a ferro e fogo, onde há uma chuva de balas para todo aquele que se atreve a circular na rua.

Timor, outra vez

Estamos de novo inundados com notícias sobre Timor.

Não própriamente notícias mas pseudo-notícias. E em primeiro lugar porque as notícias sobre Timor provém unicamente das mesmas três fontes: Xanana, Mari Alkatiri, e Ramos Horta, como se o resto pura e simplesmente não existisse. Os nossos jornalistas no local não procuram saber. Nem sequer nos são explicadas as relações entre estes três actores.

Timor vive em guerras tribais desde sempre. Num pequeno território de 15.000 kilometros quadrados, (mais ou menos metada da área do Alentejo), coexistem mais de vinte grupos étnico-linguisticos diferentes e mais de cem clãs. Os primeiros a conseguirem "pacificar" os timorenses que viviam numa civilização da Idade da Pedra, foram os portugueses pela força, e mesmo assim só em algumas cidades, e nunca no interior. Lembro-me que em 1973 participei, incluído numa equipa inglesa, no planeamento da primeira estrada a ser alguma vez construida no interior da colónia.

Saídos os portugueses, intervalados com brutalidades praticadas pelos holandeses, e japoneses, estes apenas brevemente durante a segunda guerra, entraram os indonésios. Saídos os indonésios, entrou a ONU com um simulacro de eleições (simulacro porque nem o actual Governo nem o Parlamento se sujeitaram a eleições). Saída a ONU voltaram as guerras tribais. Hoje mesmo, um ex-prémio Nobel da Paz é nomeado naturalmente e sem qualquer surpresa, Ministro da Defesa. Hoje os timorenses voltaram a ser os Firaku e os Kaladi.* Voltaram tambem as teorias da conspiração sobre os interesses escondidos dos australianos, dos chineses, ou como sempre, dos americanos, sobre o petróleo de Timor.

Timor não interessa a Portugal. Não temos relações comerciais com Timor. Nem sequer depois da Independência. Não temos afectos. Nem temos sequer a lingua portuguesa que é recusada por muitos. Então o que nos liga a Timor? A catarse colectiva. O complexo de culpa de uma descolonização mal feita em África, contra a qual já não podemos fazer nada, e uma tentativa de apagar esses erros com uma actuação sem meios, sem política, sem influência na região. Não fala grosso quem quer, fala grosso quem pode.


*Quando os portugueses chegaram a Timor uns viraram-lhes as contas e foram embora(os "vira-o-cu", "firaku"), outos ficaram calados e aceitaram ("Kaladi"), e essa divisão artificial (e não étnica, ainda que o adjectivo tenha perdurado), ficou até hoje.