domingo, junho 26, 2005

Tony Blair no Parlamento Europeu em 23 de Junho e 2005

O discurso de Tony Blair no Parlamento Europeu com transcrição integral em inglês aqui é um exemplo notável da mistificação que nos é feita todos os dias sobre o debate europeu, que nos trás para casa a realidade completamente distorcida. Por obra e graça de três intervenientes.

Em primeiro lugar pela manha do virtuoso manipulador Presidente Jacques Chirac, que conseguiu transformar uma crise provocada por uma derrota monumental nas urnas, numa crise provocada pela devolução do cheque britanico.

Em segundo lugar, e já bem perto de nós, pela arrogâcia simplista com que o Primeiro Ministro português José Socrates consegue falar sobre o egoísmo dos ingleses. José Socrates não pode ignorar que a contribuição total líquida que Portugal recebe, é inferior ao montante líquido pago pela Grã-Bretanha, o segundo contribuinte líquido da Comunidade a seguir à Alemanha.

Em terceiro lugar, como não podia deixar de ser, pelo desconhecimento perguiçoso que a nossa paroquial classe jornalistica mostra sobre a problemática europeia: como de costume alinhou com o poder instituído, e limitou-se a transcrever as caricaturas lidas de alguns jornalistas franceses e belgas, sem procurar sequer entender o fundo da questão.

Vale a pena traduzir alguns parágrafos do discurso de Blair para ler o que ele disse, e depois comparar com o que foi dito e comentado sobre esse discurso aqui em Portugal.

"...

Qualquer que seja o desacordo sobre a Europa hoje, todos concordam ao menos num ponto: a Europa está no meio de um debate profundo sobre o seu futuro.

Quero falar-vos sobre esse debate, as suas razões e como resolvê-lo. Em todas as crises há uma oportunidade. Há uma para a Europa agora, se tivermos a coragem de a enfrentar.

O debate sobre a Europa não devia ser conduzido debaixo de insultos, ou em termos de personalidades. Devia ser uma troca de ideias aberta e franca. E desde já quero descrever claramente como defino esse debate e os desacordos subjacentes.

A discussão não é sobre uma Europa de "mercado livre" e uma Europa social, entre os que se querem refugiar num mercado comum, e os que que acreditam na Europa como projecto político.

Isto não é apenas uma falsidade. Serve para intimidar todos aqueles que querem a mudança na Europa, por apresentarem o desejo de mudança como uma traição ao ideal europeu, tentanto fechar o debate sobre o futuro da Europa, alegando que a sua discussão implica abraçar a anti-Europa.

É um sistema de pensar contra o qual combati toda a minha vida politica. As ideias sobrevivem através da mudança. Morrem pela inércia frente à mudança.

Sou um pró-europeu apaixonado. Sempre fui. O meu primeiro voto foi em 1975 no referendo britânico sobre a adesão e votei sim. Em 1983, quando fui o ultimo candidadto britanico a ser escolhido logo antes das eleições, e quando o meu partido tinha uma politica de sair da Europa, disse à conferência de selecção que estava em desacordo com essa politica. Alguns pensaram que eu tinha perdido a eleição. Talvez até tenham desejado que assim fosse. Ajudei então a mudar essa politica durante os anos 80 e estou orgulhosos da mudança conseguida.

Desde que sou Primeiro Ministro assinei o Acordo Social, ajudei, com a França, a criar a moderna Politica de Defesa, fiz o meu papel nos tratados de Amsterdam, de Nice e de Roma.

Esta é uma união de valores, de solidariedade entre as nações e povos, não apenas um mercado comum onde se fazem negócios, mas um espaço politico comum onde vivemos como cidadãos.

Será sempre isso.

Acredito na Europa como projecto político. Acredito na Europa como uma dimensão social forte e acarinhadora. Nunca aceitaria uma Europa que seja apenas um mercado económico.

Dizer que isso é o que está agora em causa é escapar ao verdadeiro debate e escondermo-nos na zona confortável das coisas que dissemos uns aos outros em momentos de dificuldade.

Não existe nenhuma divisão entre a Europa que é necessária para ter sucesso económico e a Europa social. A Europa politica e a Europa económica não vivem em quartos separados.

A finalidade da Europa social e da Europa económica é a de sustentarem uma a outra.

A finalidade da Europa Política devia ser a de promover as instituiçoes democraticas e eficientes para promover políticas nessas duas esferas e em todos os lados onde queremos e precisamos de cooperar no nosso interesse mutuo.

Mas afinalidade da liderança politica é a de fazer as politicas correctas para o mundo de hoje.

Há 50 anos que os líderes da Europa fazem isso. Falamos de crise. Vamos falar antes de sucessos. Quando a guerra acabou, a Europa estava em ruínas. Hoje a Europa é um monumento ao sucesso politico. Quase 50 anos de paz, 50 anos de prosperidade, 50 anos de progresso. Pensem nisso e agradeçam.

.....

Saídos da carnificina da segunda guerra mundial, os líderes políticos tiveram a visão de realizar que esses dias tinham passado. O mundo de hoje não diminui essa visão. Demonstra a sua sabedoria. Os Estados Unidos são a unica superpotência mundial. Mas tanto a China como a Índia se tornarão dentro de algumas décadas as maiores economias do mundo, cada uma delas com populações três vezes as da União Europeia. A ideia de uma Europa unida e trabalhando em conjunto é essencial para que as nossas nações sejam suficientemente fortes para manter a sua presença no nosso mundo.

....

Como sempre as pessoas andam à frente dos politicos. Como classe politica pensamos que as pessoas que não estão envolvidas com a obcessão diária da politica, não entendem, não vem as subtilezas e complexidades da politica. Mas no final as pessoas vem melhor a politica do que nós. Precisamente porque não estão diariamente obcecadas como nós.

A discussão não é sobre a ideia da União Europeia. É sobre a modernização. É sobre as politicas. Não é um debate como abandonar a Europa, mas como transforma-la naquilo para que foi concebida: melhorar a vida das pessoas. E as pessoas hoje não estão convencidas. Considerem isto.

Durante quatro anos a Europa conduziu um debate sobre a nossa nova Constituição, dois anos na Convenção. Foi um trabalho detalhado e cuidadoso fazendo as regras para governar uma Europa de 25, e no seu tempo de 27, 28 e mais estados membros. Foi endossada por todos os governos. Foi suportada por todos os líderes. Foi então completamente rejeitada em referendos por dois estados fundadores, no caso da Holanda por mais de 60 por cento. Na realidade, na maioria dos estados membros, seria hoje dificil obter uma maioria de "sim".

Há duas explicações possíveis. Uma é a de que as pessoas estudaram a Constituição e estiveram em desacordo com os seus artigos. Duvido qe isso esteja na base da maioria do "não". Não se tratava de um caso de má fraseologia.

A outra explicação é a de que a Constituição se tornou o veículo pelo qual as pessoas manifestam um grande e profundo descontentamento com o estado das coisas na Europa. Acredito que esta seja a análise correcta.

Se é assim , não se trata de uma crise das instituições politicas, mas sim uma crise de liderança politica. As pessoas na Europa estão-nos a colocar questões difíceis. Preocupam-se com a globalização, segurança no emprego, pensões e níveis de vida. Vêm que não é só a economia mas também a sociedade que está em mudança ao seu redor. Comunidades tradicionais são destruidas, modelos étnicos mudam e é a própria vida familiar que está em apuros quando se quer fazer o balanço entre a casa e o trabalho.

Estamos a viver uma era de alterações e mudanças profundas. Olhem para os vossos filhos e para as tecnologias que usam e para os mercados de trabalho que os esperam. O mundo está irreconhecível do que experimentamos como estudantes há 20, 30 anos atrás. Quando essas mudanças ocorrem compete aos moderados mostrar liderança. Se não o fizerem são os extremos que ganham força no processo politico. Acontece nos países. Está a contecer na Europa agora.

Reflitam nisto: a Declaração de Laeken que lançou a Constituiçao foi desenhada para "trazer a Europa mais perto das pessoas". Fê-lo? A agenda de Lisboa foi lançada em 2000 com a ambição de tornara Europa "o mercado mais competitivo do mundo em 2010". Já passou mais de metade do tempo. Conseguimos?

Assisti a inúmeras conclusões de Conselhos da Europa, descrevendo que "estamos a conectar a Europa com os seus povos". Estamos mesmo?

É altura de encarar a realidade. De sermos acordados. As pessoas estão a tocar trompetas nas muralhas da cidade. Estamos a ouvir? Temos a vontade politica de ir ao encontro delas para que encarem a nossa liderança como parte da solução e não parte do problema?

É esse o contexto em que deviamos discutir o orçamento. As pessoas dizem: necessitamos de um orçamento que restore a credibilidade europeia. Claro que sim. Mas devia ser o orçamento exacto não abstraído do debate sobre a crise da Europa. Devia ser parte da resposta a esta.

...

Como deveria aparecer uma nova agenda politica europeia?

Primeiro modernizando o nosso modelo social. Alguns sugeriram que eu quero abandonar o modelo social europeu. Mas digam-me: que modelo é este que tem 20 milhões de desempregados, os níveis de produtividade a cair para baixo do Estados Unidos; que permite que mais licenciados em ciencias sejam produzidos pela India que pela Europa; e que, em qualquer indice relativo de uma economia moderna - especialistas, pesquisa e desenvolvimento, patentes, tecnologias de informação, está a descer e não a subir. A India vai expandir o seu sector biotecnológico cinco vezes nos próximos cinco anos. A China triplicou nos ultimos cinco o seu investimento em pesquisa e desenvolvimento.

Das 20 melhores universidades do mundo só duas estão agora na Europa.

A finalidade do nosso modelo social devia ser a de melhorar a nossa capacidade de competir, ajudar os nossos povos a lidar com a globalização, deixa-los abraçar as suas oportunidades e evitar os seus perigos. Claro que precisamos de uma Europa social. Mas uma Europa social que funcione.

E já nos disseram como fazê-lo. O reltório Kok de 2004 mostra o caminho. Investimento em conhecimento, em peritos, em politicas de trabalho activas, em parques da ciencia e inovação, em educação universitária, em regeneração urbana, em ajuda às pequenas empresas. Esta é politica social moderna, não é a regulamentação e protecção do emprego que podem apenas salvar alguns empregos agora a expensas de muitos empregos no futuro.

....

Esta Europa, - com a economia a ser modernizada, melhor segurança por uma acção clara dentro e fora das nossa fronteiras - seria uma Europa confiante. Seria uma Europa suficientemente confiante para ver o alargamento não como uma ameaça, como se fosse um jogo de soma nula em que os velhos membros perdem e os novos membros ganham, mas uma extraordinaria e historica oportunidade de criar uma maior e mais poderosa união. Porque não tenham ilusões: se paramos com o alargamento ou fecharmos a porta às suas consequencias naturais, no final não salvariamos um só posto de trabalho, não deixariamos uma firma, ou preveniriamos uma só deslocalização. Talvez po um tempo. Mas entretanto a Europa tornar-se-ia mais estreita, mais introspectiva, com o suporte não dos idealistas europeus, mas dos nacionalistas e xenófobos. Mas digo-vos com franqueza: é uma contradição ser a favor de liberalizar as candidaturas mas fechar as economias."

quarta-feira, junho 22, 2005

Quem não aprende com a história, arrisca-se a repeti-la

O "arrastão" da Praia de Carcavelos do passado dia 10 de Junho, e o branqueamento que alguns políticos, e muitos jornalistas fizeram, acusando os comentadores mais críticos, de racismo e xenofobia, e transformando um caso de polícia num caso de sociedade, leva a que milhares e milhares de pessoas, que sofrem todos os dias na pele os desmandos desses grupos de marginais, (por viverem no meio deles, nos seus prédios e bairros), se transfiram politicamente para as ideologias neo-nazis que lhes prometem a segurança, paz e tranquilidade que a impassível polícia do seu próprio país não garante.

Vi o Dr. Jorge Coelho assegurar impunemente na TV, que em Nova Iorque o maior rigor policial apenas transferiu o crime do centro para a periferia da cidade (ele até esteve lá como Ministro, e viu), o crime não diminuiu, e são falsas as afirmações em contrário.

Dr. Jorge Coelho tenho uma novidade para si: foi por os políticos meterem a cabeça na areia que o Sr. Le Pen chegou onde chegou em França. E vá lá ver quais são as classes sociais que mais votam nele.

Também tenho uma recomendação: Faça uma visita (incógnito e sem aparato policial) ao Bairro da Cova da Moura.

quarta-feira, junho 15, 2005

Os Deuses devem estar loucos.

Duas vidas que correm em paralelo no século XX: Atente-se nos legados de Alvaro Cunhal e de António Champalimaud, para a história de Portugal e para os Portugueses, e digam-me qual deles merece um nome de rua.

terça-feira, junho 14, 2005

O que devemos a Cunhal

Tem sido esquecido o que todos devemos a Cunhal. A sua morte não nos libertou do complexo de esquerda com que teve a arte de enquadrar o pensar português, como se vê pela abjecta deferência com que a sua vida é retratada na comunicação social. Aqui vai o meu modesto contributo para a sua memória:

1. Os operários e demais trabalhadores fabris devem a Cunhal serem os mais pobres da Europa dos 15. Sem a força da CGTP controlada pelos comunistas, e dos sindicatos socialistas com medo dos comunistas, as leis de "protecção do trabalho" não teriam atirado Portugal para a cauda da Europa. Provavelmente estariamos ao nível da Espanha, talvez entre a Espanha e a Grécia.

2. Os professores, estudantes e demais amigos da FENPROF beneficiam há anos do pior ensino da comunidade, da mais alta taxa de inssucesso escolar, e duma das mais altas taxas de analfabetismo da Europa.

3. Os profissionais da saude e todos os portugueses que tiveram de utilizar serviços públicos de saúde.

4. O milhão e meio de portugueses que tem processos pendentes à anos nos tribunais.

5. Os 770.000 funcionários públicos que temos e que deveriam ser metade.

6. Os 700.000 retornados devem a Cunhal a descolonização exemplar e o terem voltado de Africa com uma mão à frente e outra atrás.

7. Os jornalistas, sociólogos e outros profissionais de comunicação social devem-lhe o quadro de referência moral com que julgam a sociedade.

e ainda,

7. Os emigrantes africanos devem-lhe a guerra civil que assolou os seus países (Angola, Guiné, Moçambique) e provocou milhões de mortos.

8. A população checa deve-lhe o ter sido o organizador da invasão soviética e mais trinta anos de ditadura comunista.

segunda-feira, junho 13, 2005

A Terrível herança do Islão

As sociedades muçulmanas não se libertarão do subdesenvolvimento económico, político e social, enquanto não resolverem pelo menos três dilemas que herdaram da sua religião. Não tenho visto isto ser discutido com clareza e por esse motivo aqui vai:

1. O papel da mulher na sociedade - Metade da população das sociedades muçulmanas não produz. Está excluida por natureza de toda a produção económica e em muitos casos intelectual, por lhe serem vedadas um sem número de profissões. Como pode progredir uma sociedade que à partida exclui metade dos seus cidadãos?

2. A poligamia - numa sociedade polígama, está-se a criar uma hoste de jovens machos ressabiados, sem possibilidade de casar e criar família, que rapidamente se transformam em adeptos da violência para dirimir os seus conflitos. Esse sistema pressupõe um estado policial forte, que controle os cidadãos, e assegure alguma paz social. Uma bola de neve.

3. A proibição do juro - uma sociedade que vê o juro como um mal, não conseguirá nunca entender o sucesso de uma qualquer actividade económica. O capitalismo não é um jogo de soma nula em que para alguém ganhar outro deve perder. Podem ambos ganhar. A sociedade europeia medieval teve a mesma incompreensão face ao juro, o que levou a que essas profissões fossem exercidas pelas classes mais desfavorecidas, os judeus, que acabaram por dominar o clero e a nobreza, e assim atrair a sua ira, com os resultados que todos conhecemos.

Quantos mais anos demorará o Islão até "descobrir" isto?

quinta-feira, junho 09, 2005

O espectro liberal por Rui Ramos

Com os agradecimentos ao autor e ao Diário Económico que permitiu o link, aqui vai o artigo completo.

O espectro liberal


O chamado “modelo social” não tem sido muito eficaz para poupar os europeus a crises e desigualdades.

O referendo francês sobre a chamada Constituição Europeia revelou um facto curioso sobre os líderes políticos em França. Em desacordo acerca da Constituição, mostraram-se quase todos de acordo na rejeição do “liberalismo”. Quem defendeu a Constituição, fê-lo porque lhe pareceu uma muralha de aço contra o liberalismo, e quem a atacou, porque, ao contrário, lhe pareceu uma porta aberta. Em Portugal, os congressos e convenções partidários dos últimos dois meses deixaram transparecer a mesma comunhão espiritual. Do CDS ao Bloco de Esquerda, nada mais se fez do que gritar e espumar contra os “liberais”.

Donde vem esta unanimidade anti-liberal? A maioria dos líderes europeus admite, actualmente, que a chamada “economia de mercado” é o único mecanismo para criar riqueza. Argumenta, porém, que deve ser controlada pelo poder político. Seria o meio de evitar que os indivíduos gerassem irresponsavelmente, através da sua acção livre nos mercados, as desigualdades sociais e crises económicas que poderiam pôr em causa a democracia. Ao rejeitar o liberalismo, os líderes europeus estariam a defender a democracia contra a inconsciência social e política que, segundo parece, fatalmente afecta os cidadãos quando no papel de empresários, investidores ou consumidores. A questão do liberalismo seria assim a questão da democracia. O que é verdade, mas não pelas razões que os líderes políticos europeus invocam.

No século XIX, os antepassados dos actuais líderes políticos usaram a democracia para destruir as monarquias na Europa. Obtiveram o direito de governar os Estados, não como uma aristocracia, mas em nome do direito de todos os indivíduos ao auto-governo. Isso criou-lhes o problema de saber o que fazer com aquela parte da população – a maioria – que não era nem tão instruída nem tão afortunda como eles. Temeram que essa população aproveitasse os direitos políticos para provocar um regresso eleitoral ao passado clerical e dinástico, ou então para se lançar numa anarquia expropriadora. Convenceram-se de que não podiam esperar que o povo, entregue a si próprio, se transformasse num conveniente reflexo deles próprios, ilustres cavalheiros da classe média. O Estado Social desenvolveu-se para criar um povo domesticado. O poder político adquiriu assim o direito de decidir sobre a vida dos indivíduos, da educação aos investimentos. E com isto, os líderes políticos europeus puderam conceber a democracia de um modo mais agradável. Em vez de afirmarem a sua liderança através de debates envolvendo uma população de cidadãos autónomos e diferentes, puderam propor-se governar como quem pastoreia uma massa mais ou menos homogénea de clientes do Estado. Muitos funcionários públicos, muitos subsidiados, muitos pensionistas, e muitos protegidos formaram eleitorados vulneráveis às manipulações mais grosseiras. O chamado “modelo social” não tem sido muito eficaz para poupar os europeus a crises e desigualdades. Mas tem permitido, em geral, aos actuais líderes políticos governar democracias sem invejar demasiado o conforto autocrático com que outros, no passado, governaram monarquias.

Há liberais de várias espécies. Une-os a ideia de que as decisões fundamentais sobre o modo de vida de cada um devem ser tomadas pelos indivíduos, e não pelo poder político, como se estivéssemos em tempo de guerra. E é aqui que nasce a raiva dos actuais líderes políticos europeus ao liberalismo. Está em causa o poder deles, tal como o exercem agora, burocraticamente. Porque poderiam exercê-lo de outra maneira, por exemplo, democraticamente. O medo ao liberalismo é o medo à democracia.

quarta-feira, junho 08, 2005

Mais incompetentes na politica

Segundo o Portugal Diário:

O Governo deverá aprovar hoje, em Conselho de Ministros, uma proposta que prevê o fim das subvenções vitalícias para titulares de cargos políticos, prevendo a salvaguarda de direitos adquiridos para deputados com 12 anos de mandato.

A medida sobre o fim das subvenções vitalícias foi anunciada pelo primeiro-ministro, José Sócrates, em Maio, no último debate mensal na Assembleia da República, e será integrada no mesmo diploma que passará a proibir a possibilidade de titulares de cargos políticos acumularem integralmente uma reforma e um vencimento.

Com a aprovação da proposta de lei, um titular de cargo político terá de optar entre receber um terço do seu vencimento mais a reforma, ou um terço da sua reforma mais o vencimento - situação que fonte de executivo assegurou à agência Lusa que se aplicará aos casos concretos dos ministros das Finanças, Luís Campos e Cunha, e das Obras Públicas, Mário Lino.


O problema não está em os titulares dos cargos politicos ganharem demais, como o governo nos está a fazer crer.

O problema está em titulares de cargos de responsabilidade ministerial virem dar lições de moral sobre a idade da reforma, quando tem reformas imorais desde os 50 anos. E estas reformas são imorais porque são praticadas por empresas públicas, (Banco de Portugal e IPE) em cargos de nomeação política, quando seriam impossíveis de praticar por qualquer empresa privada que tenha uma Assembleia Geral de accionistas a quem prestar contas.

Com um declarado intuito moralizador o governo deu recentemente dois maus exemplos: a promoção da delação, e a promoção da mediocridade.

Salva-se pelo menos pela moralização das reformas dos deputados, um escândalo nacional em que nenhum partido tinha tocado.

E a propósito: se estas medidas não são governar para os média, o que é governar para os média?

domingo, junho 05, 2005


Saudades da Costa Rica (4) Posted by Hello

Saudades da Costa Rica (3) Posted by Hello

Saudades da Costa Rica (2) Posted by Hello

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sábado, junho 04, 2005

A Europa de gatas

O bem sonante Não holandês que se segue ao Não francês ao projecto de Constituição Europeia, veio mostrar aos mais adormecidos o que todos sabem mas não querem confessar: o projecto de uma maior integração europeia já era.

A ideia europeia começou em França, alavancada por um pequeno número de burocratas, assustados com a facilidade com que os povos europeus se matavam por ideologias como o fascismo e o comunismo. A França abraçou desde logo esse ideal porquanto pensava que a sua posição geográfica iria fazer dela uma placa giratória que defendia exemplarmente os seus interesses comerciais e paralelamente diplomaticos, reavivando com isso a sua "grandeur" colonial perdida. A França alinhou enquanto se sentiu imprescindível. Disse não no momento em que percebeu que no meio de 25 o seu poder era diluido. O povo francês não quer mais saber da Europa. Aliás nunca quis.

A verdade é que antidemocraticamente, e isto é válido para todos os países que aderiram à comunidade, o ideal europeu representou sempre e só um projecto económico, fruto da vontade das sua elites, e nunca fruto da vontade dos seus povos. Até no nosso pobre país o ideal europeu nunca foi a votos, e é apenas discutido em seminários (por iniciativa do Presidente da Republica(!)) na Gulbenkian, como se esse fosse o local ideal para debater um projecto desta amplitude, e leva-lo até ao povo, e torna-lo seu.

Também hoje a generalidade dos políticos europeus são democratas de fachada que não acreditam na sabedoria do povo, mas apenas se servem dele para os seus projectos pessoais, porque na velha Europa a aristocracia e a igreja, deram lugar a uma outra classe de previlegiados, os políticos, que dominam o poder de um modo exclusivo.

E não há nenhum país onde isso seja mais patente do que em França, onde o Presidente Chirac, com a sua reeleição tornada agora impossível , escolhe como Primeiro Ministro o seu criado e mais fiel servidor, um homem que nunca se sujeitou a escrutínio popular, caso que acredito seja inédito, com a finalidade clara de nos próximos anos ir "amaciar" o caminho da lei para que o seu mentor esteja a salvo quando descer do poder. Lembre-se a propósito que Chirac risca a prisão quando deixar de ser inimputável, e toda a sua verborreia contra o "neo-liberalismo" não teve outra função que não fosse alimentar a chama sagrada da esquerda e ir buscar todos os votos possíveis, para a sua reeleição. E o paladino do Não francês, o ex-primeiro ministro socialista Fabius, que outra coisa quer que não ser presidenciável, na corrida contra os naturais candidatos da esquerda?

Caso único? De modo algum. Basta perguntar-se que outra coisa faz Berlusconi em Italia, e a resposta está à vista: nenhuma das anunciadas impopulares medidas de restruturação foi tomada, mas foram dados passos importantes para o salvar das garras da lei, e o segurar por mais uns anos no cargo.

De modo que na Europa - veja-se também o caso exemplar da Alemanha onde se discute o"capitalismo dos gafanhotos",- estamos na estaca zero de crescimento económico mas a discutir o sexo dos anjos, ou como eufemísticamente agora se chama, o modelo social europeu. Uma treta, claro está, para alimentar a classe política.

Vamos ver numeros: O salario horário na agricultura em Portugal é de 5€, em França 9€, na Alemanha 10€, (excepto os 300.000 polacos que importa anualmente para apanha da fruta), em Marrocos aqui ao lado 50 cêntimos, e na China 3 cêntimos. Podemos competir? A produtividade de um trabalhador agrícola português na apanha de morango é de 1 kg/hora, de um romeno é de 3 kgs/hora, e de um ucraniano importado para o efeito é de 5 kgs/hora. Podemos competir?

Podemos fechar as fronteiras, e aguardar calmamente a estagnação tecnológica e económica. Vamos vender turbinas, TGVs e Airbus aonde? Comprar petroleo aonde? Não podemos fechar fronteiras. Podemos voltar às moedas iniciais, como sugere um qualquer ministro italiano? Fazer talvez uma desvalorizaçãozinha rápido, rápido e voltar ao euro? Ridículo.

A Europa tem de se democratizar, deixar que sejam os seus povos a assumir os riscos das suas decisões, desmantelar a fortaleza, e não ter medo de ir para a frente. Acabar com os enfatuados burocratas que sabem mais, e que se protegem da concorrência, fazendo crer que nos protegem da concorrência. Isso implicará alguns sacrifícios para as gerações presentes, mas é condição imprescindível para que a Europa tenha algum futuro. A discussão vai agora começar, e penso que vai ser muito muito interessante. E pela primeira vez todos teremos algo a dizer.