sábado, janeiro 17, 2009

Cá vamos nós outra vez

Há exactamente dois anos, na sua ânsia de tudo regulamentar, fez o governo saber que ia remodelar toda a orgânica das actividades subaquáticas acabando com a Caderneta de Mergulho.

Saiu agora a portaria que regulamenta o mergulho amador. Para quê? Dois anos para estudar como sacar dinheiro ao contribuinte com a emissão de mais um cartão, chamado Título Nacional de Mergulho, desenho do Instituto de Desporto de Portugal, I.P. Os mergulhadores amadores portugueses passam a ser classificados segundo um escalão determinado por um burocrata qualquer, que à falta de melhor, vai copiar as certificações internacionais.

Porque em todo o mundo a prática do mergulho é certificada por entidades privadas independentes, a PADI ou a CMAS, que garantem a idoneidade do mergulhador.

Em todo o mundo menos Portugal. Aqui só pode mergulhar quem for portador do novel Título Nacional de Mergulho. Mais uns empregos para as Federações, Institutos e outros chulos afins, mais uns dinheiros para os cofres do Estado, e mais um controlo sobre a actividade dos cidadãos. Passo a passo até à Servidão Final.

Etiquetas:

Obama Imaculado

Na terça feira próxima vai ser ungido o próximo Salvador do Mundo, o "Escolhido" pelas esquerdas e pelos meios de comunicação social para resolver os problemas da Humanidade.

Já o disse aqui em Outubro passado e repito: se Obama governar com o coração, e à esquerda, como prometeu, será um novo Jimmy Carter e não durará mais do que quatro anos. Se Obama governar com a razão, ao centro, como é bem provavel que faça, poderá ser reeleito. No segundo caso dentro de seis meses vai-se começar a falar da "desilusão Obama".

sábado, janeiro 10, 2009

António Francisco, automobilista

Hoje de manhã na RTP1, a "jornalista" de serviço entrevistava o Sr. António Francisco sobre o estado da estrada coberta de neve lá para os lados de Viseu. O Sr. Francisco balbuciava algumas palavras totalmente irrelevantes sobre o nevão.

Por baixo aparecia o nome do entrevistado ANTÓNIO FRANCISCO, e ainda por baixo AUTOMOBILISTA.

Para os editores do programa da RTP1 as pessoas só existem se estiverem definidas pela pertença a um grupo, a uma profissão, a qualquer coisa que lhes retire a individualidade. A tentação totalitária inconsciente: corporativa, socialista, no seu melhor.

Os melhores livros de 2008

Foi um bom ano de leitura. Aos que me perguntam como é que arranjas tempo para ler, repondo que há muitos anos já abdiquei de ver televisão. Inclusive notícias. Inclusive a BBC. Não é que a televisão seja toda má, mas quase toda é má. A televisão é, pela sua natureza, superficial. A televisão não admite o contraditório, porque não tem tempo. A televisão rouba o nosso tempo, em benefício de nada. Para além disso faz-me confusão ver locutores, pessoas que apenas tem uma boa dicção, serem promovidos a jornalistas, e logo de seguida a comentadores, só porque estão lá. Faz-me lembrar as mulheres a dias que passaram a ser as senhoras da limpeza.

Os melhores livros que li em 2008 - (sem qualquer ordem)

Nature via Nurture - genes, experience and what makes us human, de Matt Ridley, ed. Haper Perennial, Londres, 2004, 311 paginas. O autor, doutorado em zoologia pela Universidade de Oxford, é também o autor do famoso The Red Queen (1993), já traduzido para português com o título A Rainha de Copas. Este livro é importante porque consegue pôr um ponto final na célebre polémica "nature vs. nurture" que dura há mais de cem anos, e que até por cá tem inflamado o discurso de biólogos e psicólogos de todos os quadrantes. Já Darwin se queixava que de cada vez que o homem era posto ao mesmo nível que o animal, aparecia logo uma corte de defensores da "especificidade" humana. O homem não é unicamente comandado pelos seus genes, mas também não é uma folha em branco onde se pode pela educação re-escrever tudo desde a nascença, como acreditam ainda os behavioristas. É a interacção da herança genética com o ambiente cultural no sentido sociológico do termo que cria a personalidade humana. Mas são os genes que comandam. A cultura é orientadora, não determinante. O autor tem uma frase curiosa que diz quase tudo: para os pais de um só filho a educação que lhe deram foi tudo aquilo que o transformou no que é agora. Para os pais de dois  ou mais filhos, foi a natureza que os fez assim, os pais só ajudaram. Um livro revelador. Agradeço à minha filha que mo ofereceu pelo Natal. 

No Simple Victory - Worl War II in Europe, 1939-45 de Norman Davies, ed. Penguin Books, New York 2006, 544 páginas.
Para o ocidente a Segunda Grande Guerra foi ganha pelo esforço conjunto dos aliados (Inglaterra e EUA) com uma pequena ajuda das resistencias em França e outros estados menores. Foi a vitória do Bem contra o Mal, personificado pelo regime nazi. Para os russos a chamada Grande Guerra Patriótica foi ganha pela URSS sózinha. O Bem venceu o Mal, e os russos só não passaram para além de Berlim porque se impuseram ficar por aí. Para o autor, inglês de nascimento, a II Grande Guerra na Europa foi uma vitória esmagadora de um regime selvagem, totalitário e assassino, o regime soviético, contra outro regime selvagem, totalitário e assassino, o regime nazi. Mas os vencedores branquearam a história. As forças ocidentais europeias limitaram-se a assistir à colonização de metade da Europa e imposição de um regime totalitário, sobre as populações que ficaram sob o domínio soviético, e à destruição das forças militares germânicas que ousaram invadir o território russo. A participação do ocidente neste acontecimento é pouco mais que irrelevante.

Interessam-lhe os números, crus e arrepiantes, desde o número de calorias consumidas per capita na URSS comparado com Inglaterra, como o número de campos de concentração soviéticos, comparados com o número de campos de concentração nazis, o número de prisioneirose mortos nesses campos, os mortos militares na guerra de um lado e outro (URSS- 8.868.000, Terceiro Reich - 4.412.000, Italia - 400.000, Inglaterra incluindo as colónias - 200.000, EUA - 150.000), os mortos civis (16.625.000), os mortos em campos de extermínio do Gulag e outros campos Nazis, estatísticas frias que nos dão a fotografia total do horror da guerra, e não a visão romantizada que nos fizeram dela os simpatizantes do totalitarismo comunista. Para quem quer saber a Verdade sobre a Grande Guerra, eis um livro de referência.

O que me leva inexoravelmente para um outro assunto relacionado com a liberdade individual (que em sociedades organizadas tem o nome de democracia liberal) de que gozamos aqui no ocidente, graças aos anglo-saxões que a inventaram e aos americanos seus herdeiros que a aprofundaram e a impuseram aos europeus pela vitória na guerra. Na Ásia essa ideia não existe (a India é excepcional por representar um simulacro de democracia em que todos parecem estar contentes, e o Japão é a verdadeira excepção, graças a Mac Arthur que lhes escreveu a Constituição ), em África do norte a sul não há nenhum país que a tenha adoptado, aliás a África fora do domínio do Islão mantém-se tribal, o dentro do Islão, medieval, na América do Sul a tentação totalitária é omnipresente, na Oceania mantem-se a tradição e os costumes anglo-saxónicos. 

Ou seja, vivemos assim numa pequena ilha no ocidente cercada por totalitarismos de todos os lados, e até aqui dentro por todos aqueles que perseguem as novas Utopias (Ecologia: Gaia Pura, Religião: Céu e Purificação da Alma, Política: Paraísos na Terra).

O Cisne Negro- o impacto do altamente improvável de Nassim Nicholas Taleb comprado ao acaso no aeroporto de Lisboa, numa saída para uma semana de mergulho no Mar Vermelho. Passei os dias a mergulhar e as noites embrenhado no livro. Tese: os fazedores de opinião e os analistas são uma quantidade de aldrabões sérios, ao ponto de até acreditarem naquilo que dizem prever. Só que o futuro não é de todo previsível, porque os acontecimentos que verdadeiramente determinam o futuro são totalmente aleatórios, altamente improváveis, (vidé exemplos citados do 11 de setembro ou do sucesso inesperado do fenómeno youtube ). 

Para alguém como eu que gosta de estatísticas, que trabalhou como estudante no hoje extinto IPOPE - Instituto Português de Opinião Pública, e no Rio de Janeiro tinha o IBOPE como cliente, este livro representou um murro no estômago. Um murro inesperado, irreverente e até hilariante por vezes.

Casa de misericordia, um pequeno livro de poesia numa edição bilingue em catalão e castelhano da autoria de Joan Margarit que me fez uma simpática dedicatória. Alguma peças lindíssimas, ente elas a que deu o título ao livro e que nos lembra que os horrores da guerra civil que destruiu a Catalunha não foram esquecidos:

El padre fusilado. 
O como dice el juez, executado
La madre, ahora, la miseria, el hambre,
la instancia que le escribe alguien a máquina:
Saludo al Vencedor, Segundo Año Triunfal,
Solicito a Vuocencia poder dejar mis hijos
en esta Casa de Misericordia.

El frio del mañana esta en la instancia.
Hospicios y orfanatos fueran duros, pero más dura era la intemperie
La verdadera caridad da miedo.
Igual que la poesia: un buen poema,
por más bello que sea, sera cruel.
No hay nada más. La poesia es hoy
la ultima casa de misericordia

Este livro recebeu o Prémio Nacional de Poesia 2008 em Espanha.

As Seis Lições de Ludwig von Mises. Um livro magistral de apenas 94 páginas com download gratuito pela internet através da ordemlivre.org, uma transcrição de uma série de conferências que o autor deu na Argentina em 1958. Temas do nosso século vistos por um dos mais lúcidos economistas do século XX. A não perder.

The voyages of Captain Cook, um diário de viagem escrito pelo próprio. Um must para quem gosta de descrições de viagens de descoberta. É o segundo livro sobre Cook que leio, e cada vez admiro mais o personagem e a época em que viveu. Um grande marinheiro. Talvez o maior de sempre.
 
Mais rápido do que a luz por João Magueijo, ed. Gradiva, tradução do inglês Faster than the Speed of Light, Lisboa, 2006, 293 páginas. É bom ter um físico português a escrever sobre cosmologia de ponta, avançando a ideia inverosímil que a velocidade da luz pode não ser afinal uma constante da natureza, mas poder ser de velocidade variável. O que me surpreendeu ainda mais neste livro foi o facto de ter sido traduzido para português só três longos anos depois de ter sido escrito e publicado em Inglaterra, o que revela o estado das nossa ciências. 

Guide to the perfect latin american idiot obra panfletária conjunta de Plinio Apuleyo Mendoza, Carlos Alberto Montaner e Alvaro Vargas Llosa, ed. Madison Books de Lanham, Maryland, 2001. Este livro com um título tão sugestivo é tão verdadeiro hoje como em 1996 ano em que foi escrito. Lamentável que esteja escondido, e por isso o divulgo aqui.

E finalmente O Colar do Neandertal, de Juan Luis Arsuaga, uma obra didática sobre o encontro entre os nossos antepassados Cro-Magnon e os Neandertais, e como este últimos foram cilindrados pela nossa espécie, os "comedores do futuro" como lhes chamou Tim Flannery. Um homem de ciência, muito sabedor escreve um livro de divulgação científica.

Os piores livros de 2009- devo mencionar aqui entre outros Alves Reis da autoria de Francisco Teixeira da Mota. O assunto até tem que se lhe diga, e eu que em tempos li um relatório dactilografado do Banco de Portugal da época em que explicava como tudo se tinha passado até comecei interessado, mas o livro está tão mal escrito e em tão mau português que é intragável, e por isso o menciono aqui.

Talvez o livro mais decepcionante do ano tenha sido a encíclica papal Salvos na Esperança, do conteúdo da qual nutria algumas  expectativas pelo título e por se tratar da obra de um dos Príncipes da Teologia. Reparo que a máquina de propaganda da ICAR continua  a funcionar em beleza, porque se trata de uma obra menor, e não apenas em tamanho (70 páginas). Quando a explicação de um facto é obscura senão incompreensível e se refugia no argumento da fé para o explicar, está-se imediatamente a excluir os não iniciados. A Igreja reduz-se assim a um clube fechado. Devia ser óbvio que cada vez com menos associados, o que só não é verdade porquanto a adesão a uma religião é um fenómeno normalmente hereditário, e se não for hereditário, é irracional, no sentido de ser sentimental, feito com o coração.

Livros para 2009 - Estou amorosamente a meio da leitura do The Voyager's Handbook da autoria de Beth Leonard, uma consultora de gestão da McKinsey que deixou o trabalho altamente remunerado na Suécia para se dedicar a viajar à vela pelo mundo e a escrever sobre o assunto. São 572 páginas de conselhos e tabelas escritos por quem sabe, numa edição da Adlard Coles.

Comprei A Espuma do Tempo- memórias do tempo de vésperas de Adriano Moreira, cuja leitura aguardo com ansiedade e Jogos Africanos de Jaime Nogueira Pinto, um autor com o qual normalmente partilho o modo de análise mas raramente as conclusões. E acabo de receber o monumental  South Pacific da Moon Handbooks, 1090 páginas para ajudar a adormecer e a recordar alguns sítios de sonho onde pude deixar as minhas pegadas na areia. Boas leituras para 2009!


terça-feira, janeiro 06, 2009

PM na SIC

Sobre a entrevista, que confesso ter visto superficialmente porque o assunto interessa pouco, lembro os interessados que este PM é o mesmo homem que nos "debates" que mantinha há uns anos atrás com Santana Lopes na televisão ao fim de semana, conseguia fazer com que este ultimo parecesse ser um político brilhante.

Que mais se pode esperar de um medíocre, senão o convencimento de estar a cumprir uma missão?

PS. A escolha de Ricardo Costa e de Gomes Ferreira foi criteriosa. Um verdadeiro show business de perguntas inconsequentes, bem ensaiado por Balsemão que não esquece a recente mãozinha que recebeu do PM no caso Banco Privado Português. Os favores pagam-se assim.