sábado, dezembro 31, 2005

A "História de Portugal" de John dos Passos

História de Portugal- três séculos de expansão e descobrimentos (The Portugal Story, por John dos Passos, 1969 - traduzido do inglês por Maria da Graça Cardoso, editorial Ibis, 470 páginas, 1ª edição de março de 1970).

Este livro devia-se talvez ter antes chamado Histórias de Portugueses, porque é um relato de aventuras escrito um pouco à maneira dos livros do Adolfo Simões Mueller da minha infância. Mas é um livro escrito por alguém muito sabedor, que respeita e ama os seus antepassados (o grande John Dos Passos é neto de portugueses da Ilha da Madeira), e que fez uma investigação séria e aprofundada sobre a nossa história antes de começar a escrever este maravilhoso livro romanesco. A respeito disso a bibliografia do final é elucidativa.

Encantado com a redescoberta de uma leitura de há mais de trinta anos, quis oferecer este livro no Natal. O velho livreiro a quem me dirigi surpreendeu-me com o comentário seguinte: "Dos Passos?! Já ninguém hoje lê John dos Passos!. Nem está re-editado, nem se encontra em nenhuma livraria. Desapareceu simplesmente. Estou admirado que alguém pergunte por esse autor!".

É pena.

quarta-feira, dezembro 21, 2005

Abaixo de Cão

Pela arrogância, grosseria, calúnia, falta de sentido democrático, falta de cultura, falta de educação, sobranceria, demagogia e populismo, nomeio o Professor Mário Soares digno sucessor do falecido Imperador Bokassa.

Que a derrota lhe seja pesada, se possível até abaixo de Manuel Alegre, já que a idade lhe não permite uma reconversão.

domingo, dezembro 11, 2005

A anedota do mês (Dez. 2005)

José Sócrates afirmou que Portugal pode ser a «porta para África» da China. Esta afirmação foi feita durante o segundo e último dia da visita do primeiro-ministro chinês Wen Jiabao a Portugal.


Porta para África?!
Isso mesmo "Porta para África". O ridículo não mata, só moi.

E a seguir vem o desenvolvimento da notícia:

«Portugal pode oferecer muita coisa à China, além da hospitalidade e do clima. Primeiro, pode afirmar-se como parceiro da China em África. A China dispõe de capital, nós conhecemos o terreno, a língua, as tradições. Portugal pode ser uma porta para África e para algumas zonas da América Latina».

Para "além da hospitalidade e do clima"?
Sim, para "além da hospitalidade e do clima".

O primeiro-ministro chinês, que se fez acompanhar pelos ministros das Finanças e da Cultura e dos vice-ministros dos Negócios Estrangeiros, Comércio e da Comissão Nacional da Reforma e do Desenvolvimento, deve ter saído do país com opinião feita sobre as brilhantes qualidades intelectuais do seu homólogo português.

Sobretudo a da "Porta para África", para "além da hospitalidade e do clima".

domingo, dezembro 04, 2005

Beneficiários com processamento de rendimento social de inserção (RSI)

Segundo o Boletim Estatístico da Direcção Geral de Estudos, Estatística e Planeamento do Ministério do Trabalho e da Segurança Social, de Setembro de 2005, (o ultimo disponível), a progressão em doze meses do número de beneficiários do RSI foi a seguinte:

2004:
Ago - 37.751
Set - 45.633
Out - 56.230
Nov - 69.734
Dez - 75.992

2005:
Jan - 87.708
Fev - 92.325
Mar - 106.540
Abr - 114.760
Mai - 127.286
Jun - 132.615
Jul - 136.616
Ago - 145.283

Isto é, quase que quadruplicou num ano.

A pergunta que faço é simplesmente a seguinte: Quando é que isto vai parar?

Sei de primeira mão de uma história de uma mãe solteira caboverdiana com emprego estável e papeis regularizados, a quem foi proposto este ano numa Junta de Freguesia (de Sesimbra) que se inscrevesse no RSI. Só assim ela poderia beneficiar não só do RSI, como eventualmente receber uma casa da Câmara (porque só há casas da Câmara para quem não tenha rendimentos do trabalho), e, subentendo eu, poder talvez dedicar os seus tempos livres à prostituição, ou outra profissão liberal em que não tenha de passar recibos e contribuir para a Segurança Social.

Não estou contra o Rendimento Mínimo ou Rendimento de Social de Inserção ou lá o que lhe quiserem chamar. Estou contra as políticas que fomentam a preguiça em vez do trabalho, e que tratam os cidadãos como menores que tem de ser auxiliados permanentemente pelo Estado. E é isto precisamente que está a suceder, quando se verifica que as taxas de crescimento deste subsídio sobem muitas vezes mais do que as taxas de desemprego.

quinta-feira, dezembro 01, 2005

Baixar o Sarrafo!

O Presidente do Banco Central Europeu, Monsieur Trichet, acaba de comunicar que, com a finalidade de combater a inflação, a taxa de juro do B.C.E. que comanda o Euro, vai aumentar 25 pontos base, ou seja 0,25%.

É uma má notícia para os portugueses endividados, que são quase todos, e para as empresas em particular.

Depois dos impostos que este governo sábiamente anunciou alguns dias depois de tomar posse, e contrariando promessas eleitorais, (convém relembrar isto sempre), o aumento das taxas de juro faz lembrar o mote brasileiro de "baixar o sarrafo", ou o familiar "pau neles!".

Com a cumplicidade benevolentemente ingénua do Presidente da República, Dr. Jorge Sampaio, (também convém relembrar isto), este governo do Engenheiro Sócrates, confrontado com o excesso de despesa por parte do Estado, e com mêdo do puxão de orelhas de Bruxelas, (e não porque tenha achado que o permanente endividamento do Estado é mau de per si), decidiu fazer todos os portugueses pagar por isso, e aumentou os impostos. É aquilo a que Sampaio chamou de solidariedade, uma palavra que se sabe muito querida para os socialistas, sobretudo porque a solidariedade é paga pelos outros.

Foi uma medida estúpida, contrária ao interesse da economia, mas satisfatória para a clientela que elege o chamado Centralão que nos governa desde há trinta anos, essa mesma clientela que não quer ver tocar nos seus privilégios, entre eles a incomportável reforma com 100% do último salário para 750.000 funcionáros públicos.

Pois agora vai começar a doer. Para além de ter paralisado a economia, o governo até poderá vir a desculpar-se com os malandros do Banco Central Europeu, mas não pode mais esconder que chegou a hora de pagar outra factura.

Para já, e a partir de amanhã, vão aumentar as prestações das casas. Os portugueses não vão gostar.

Até que se comecem verdadeiramente a fazer as inadiáveis reformas. Aí vai ser bonito...

A Revolução de 1640 revisitada

Comemoram-se hoja 365 anos sobre o início da Revolução de 1640, com a consequência da restauração da independência de Portugal, após sessenta anos de domínio dos Felipes.

Li hoje, com pouca surpresa aliás, que a Revolução de 1640 foi uma revolução do povo contra o domínio de Castela.

É mentira.

O envolvimento das "massas populares" na génese dos movimentos revolucionários é uma fabulação marxista que não tem nada a ver com a verdade histórica, e tem tudo a ver com a ideologia.

A Revolução de 1640 foi feita pela nobreza e parte do clero, discontentes com o modo como Felipe IV, instigado pela acção ditatorial do conde duque de Olivares, pretendia subordinar os Reinos de Portugal e da Catalunha à autoridade centralizadora de Castela. Os mesmos nobres a o mesmo clero, que sessenta anos antes tinham entregue o poder a Felipe II, depois das vicicitudes provocadas pela aventura do adolescente-idiota Dom Sebastião em Alcacer Quibir.

A nobreza portuguesa estava descontente pelas desconsiderações que sofria, e pela falta de cumprimento por parte da coroa espanhola de promessas de benesses e posições de influência na corte de Madrid; aconteceu o mesmo, exactamente na mesma altura e pelos mesmos motivos com a Catalunha.

Por volta de 1625 foi anunciada por Olivares a pretensão de angariar soldados num exército permanente. Segundo o plano chamado de Union de Armas cabiam a Portugal e à Catalunha garantir 16.000 homens cada, num total de 128.000 homens para toda a Espanha, com a finalidade de defender o Reino e as possessões portuguesas no ultramar, que começaram imediatamente após a perda da independência a serem cobiçadas pelos holandeses, com a criação da Companhia das Índias Ocidentais em 1621. Os portugueses, que não gostavam de ter soldados espanhois dentro das suas fronteiras, gostaram ainda menos de ter de partilhar o esforço de manutenção do império.

A partir de 1630 começaram a ser lançados novos impostos por toda a Espanha, que, como sempre, foram mal recebidos pelas populações. Olivares pensava mesmo que Portugal era um reino previlegiado o que tocava a impostos, por em proporção com a população que tinha, pagar menos para os cofres do estado central que todos os outros reinos que compunham a Espanha.

Estes impostos suscitaram algumas revoltas localizadas em muitas cidades e vilas de Portugal. Mas os impostos, foram especialmente mal recebidos na Catalunha, tendo provocado uma revolta generalizada que levou à intervenção armada das forças de Castela, que impotentes, tiveram de escolher entre Portugal e a Catalunha. A revolta na Catalunha foi esmagada. Em Portugal graças à acção do oitavo Duque de Bragança, Dom João, que reuniu à sua volta a nobreza insatisfeita, essa revolta teve sucesso.

Há vários mitos à volta da Revolução de 1640. Mitos sebastianistas, mitos patrióticos inventados pelo Estado Novo, e os mais recentes mitos marxistas sobre a acção popular. Para saber um pouco mais, e com a autoridade de uma fonte independente, recomendo a leitura do excelente livro Catalunya i Portugal - El 1640, pela historiadora catalã Maria Àngels Pérez Samper(ed. Curial, Barcelona, 1992, 465 páginas). Está escrito em catalão e não foi traduzido para português, mas após as primeiras páginas, mais difíceis, a lingua torna-se acessível para a maioria dos leitores de português.