quinta-feira, abril 27, 2006

25 de Abril. Sempre?

"As a rule, some people, such as Jacobins, tend to be more enthusiastic about revolutions than others, such as monarchs. Another fairly reliable rule is that revolutions abrupt enough to be associated with a single year (1642, 1789, 1848, 1917) tend to cause trouble but rarely bring lasting change. By contrast, revolutions gradual enough to be associated with a name (Renaissance, Reformation, Industrial Revolution) often do have enduring effects. A third rule, or hypothesis, might be that revolutions seem never to be entirely for the better or the worse, but somehow manage to combine both."

No Economist de 20 de Abril de 2006
(sublinhado meu)

terça-feira, abril 25, 2006

Quanto vale um mero? Pense nisso

Um mero é um animal que leva uns quarenta anos a atingir a maturidade.

A sete euros o quilo, um mero grande "rende" uns duzentos euros para o pescador que o pesca. Como vive no fundo, longe da possibilidade da apneia, e dentro de covas, é pescado sempre de uma maneira ilegítima e ilegal. O pescador visita a cova armado e com garrafa. O mero é amistoso e curioso. Deixa-se aproximar e morre com um tiro na cabeça dado a cinquenta centímetros de distância.

Mas um mero que não é morto "rende" por ano muitas dezenas de milhares de euros. São 20 ou trinta euros por pessoa, por fim de semana, verão e inverno, multiplicado por centenas de pessoas. São empregos que se criam no turismo de mergulho, são nacionais e estrangeiros, dormidas e material, enfim é toda uma industria que vive muitas vezes da visita a um só mero, como sucede na Madeira ou nos Açores. Como é possível então que se deixe vender mero em restaurantes, na rua, ou nos mercados?

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Dois apontamentos sobre mergulho

Aproveitei o feriado para fazer dois mergulhos em Sesimbra, um deles no barco afundado River Guaira, um dos poucos, e talvez o melhor local de mergulho em barco afundado na nossa costa.
A zona do Cabo Espichel onde se encontra o River é desde este ano Parque Natural, não se podendo fundear.

Pergunta: Não é possível ao Parque colocar uma poita para que os barcos de mergulho se sirvam dela e não usem as âncoras como continua a ser costume? De que serve mandar para lá a Polícia Marítima de vez em quando, se logo que eles saem voltam as âncoras para o fundo? Não há ninguem que pense um bocadinho e perceba que a medida é impossível de ser cumprida? Não há dinheiro? Entao para que servem os dinheiros das licenças dos barcos de mergulho?

Pergunta: Não é possível que a Marinha afunde uns barcos (como fazer todas as Marinhas do mundo, nomeadamente a Marinha Espanhola) junto à nossa costa para:

1. criar um habitat artificial que chame mais peixe,
2. impedir o arrasto selvagem,
3. ajudar o turismo do mergulho

Soube hoje que a Marinha se prepara para afundar um barco saído do activo, mas vai levá-lo para 140 milhas da costa, e afudá-lo com tiros, em 3.000 metros de fundo. É mais uma brincadeira de mau gosto. Depois queixam-se da má imagem dos militares.

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sexta-feira, abril 14, 2006

Opera Buffa


De Itália vieram esta semana notícias boas e notícias más . As notícias boas são a provável saída de Berlus- coni. As notícias más são as da chegada de Prodi.

Longe de mim a crítica dos negócios do cavaliere. Toda a campanha eleitoral foi feita na base do ataque pessoal, quando havia muito mais para criticar. Silvio Berlusconi deu a Itália um período de tranquilidade governativa nunca visto deste a derrota na guerra, mas não aproveitou a governação para fazer as mudanças de fundo que a Itália precisa. Deu também a impressão (ou seria essa a imagem que passou na imprensa europeia?) de que estava mais preocupado em libertar-se dos multiplos processos em que está envolvido, do que mudar a Itália.

De Romano Prodi há pouco a dizer e menos a esperar. Foi o mais banal e medíocre Presidente da Comissão Europeia que já conhecemos, e vai liderar um governo que é um saco de gatos. Para os mais distraídos lembro que a coligação é a mesma que levou à queda do governo socialista anterior, e com os mesmos personagens. Não se esperem mudanças de fundo com um déficit record. Ou seja, mais do mesmo.

De França as notícias não são más, são francamente más. Chirac cedeu à tentação do populismo e retirou a mais tímida tentativa de criação de emprego para os jovens de menos de 26 anos de que há memória. Cedeu à pressão dos sindicatos e fortaleceu a esquerda que se sente revigorada. O Liberation interroga-se sobre o porquê dos empresários franceses estarem pessimistas e declararem que vão criar menos empregos este ano que em 2005. Vraiment? Não se espere da França a liderança de coisa nenhuma. Chirac só lá está para se manter no poleiro e salvar a pele.

A Alemanha tem um governo de coligação contra natura que parece estar a funcionar exactamente porque nada está a mudar. Há demasiadas esperanças depositadas na Frau Merkel, e espera-se que não decepcione, porque a Alemanha (tirando o infeliz episódio Shroeder, e também os alemães tem o direito de brincar ao socialismo, ou não?), é um país que leva as coisas a sério.

Na própria Inglaterra, o motor económico e fonte reformista da Europa nos últimos dez anos, o ambiente é de melancolia, antecipando a saída do cansado Tony Blair.

A nossa vizinha e principal parceira de negócios, a Espanha de Zapatero é um desastre político, com uma economia saudável, salve-se ao menos isso. Zapatero está nas mão das minorias catalãs e bascas e navega à vista entre os escolhos. A propósito, a ETA já foi mas não é mais um movimento político, é só criminalidade organizada, um modo de sacar dinheiro à maneira da Máfia, que é aproveitada pelos movimentos independentistas bascos (atenção ao plural) para assustar a burguesia espanhola. Mas a Espanha independentemente de quem a governa sempre soube o que quer e para onde vai.

Entretanto o petróleo continua a subir moderadamente. Pergunta-se porquê. A Arabia Saudita está a aguentar os preços, e a produzir graças aos americanos (quem mais?). O Iraque continua a produzir (se lá estivesse o Saddam o que seria de nós?). O Irão, que por causa do expansionismo islâmico que impregna toda a sua acção diplomática representa o maior perigo que assola o mundo neste início de século, continua a produzir. A Russia precisa do dinheiro e exporta em força. A Venezuela fala, fala, mas continua a mandar quase toda a produção para os EUA. A Nigéria está à beira da falência, da revolução islâmica, de ser proclamado um estado falhado, mas já está assim há anos, e, mais ou menos atentados, continua a produzir em força. Face a isto a Europa está impotente diplomática e militarmente. As forças armadas dos países europeus (exceptuando a Inglaterra) são uma brincadeira, sem homens, sem material e sem dinheiro, e a Europa, que não pode viver sem petróleo, não mexe uma palha para garantir os seus suprimentos, e como é costume abriga-se debaixo da protecção americana. Mas não deixa de criticar como sempre fez.

O desastre é eminente como diz Luciano Amaral num artigo lúcido de tom pessimista.

A Europa precisa de um bode expiatório para descarregar a culpa dos seus males. Já foram os judeus e os ciganos, agora tocou a vez aos americanos. Entretanto vamos todos cantando e rindo atrás do flautista de Hamelin. Para commedia buffa só nos faltava a musica.

quinta-feira, abril 13, 2006

O exemplo vem de cima

Segundo o que conta jornal "O Público" na sua edição de hoje, no dia de ontem quarta-feira, na Assembleia da Republica assinaram o livro de presenças 194 deputados, mas no final da sessão plenária encontravam-se presentes apenas 110 dos 230 deputados. Para aprovar uma lei são necessários 116 deputados, tendo faltado portanto seis deputados para a aprovação dos diplomas em discussão. A sessão foi interrompida. As leis previstas não foram aprovadas. Assim mesmo.

Dos 120 deputados que faltaram às votações, 13 estavam ausentes em missão parlamentar no estrangeiro e 107 não compareceram no momento da votação: 49 deputados do PS (40% do total dos deputados da maioria PS), 50 do PSD (66% do total dos deputados do PSD), dois do PCP (16% do total PCP), cinco do CDS-PP (41% do total CDS) e um do BE (12% do total do BE).

84 representantes do povo assinaram o livro de presenças, e foram-se embora presume-se que para fim de semana antecipado. Uma paródia.

As desculpas apresentadas pelas chefias dos partidos são escabrosas, e revelam o estado moral da Nação portuguesa.

Salazar esteve no poder mais de quarenta anos com a cumplicidade de todos os que queriam viver num país respeitado, depois de apenas dezassete anos de balburdia republicana. Os tempos não estão para isso, mas não tardará muito para se começar a murmurar "Ditador Precisa-se".

quarta-feira, abril 12, 2006

Fui Assaltado!


O elemento de braços no ar, à direita na imagem, representa exactamente como eu me sinto ao declarar o IRS, cada vez mais um assalto organizado para que alguns "eleitos" possam viver à custa de todos.

sexta-feira, abril 07, 2006

Portugal no seu melhor: ou os efeitos da Popaganda

"Os números não mentem: mesmo com sacrifícios pedidos aos cidadãos, o Estado gastou bem acima do ano anterior e até acima do previsto no tal Relatório Constâncio (mais 133 milhões de euros). A despesa total cresceu 7,4 por cento passando de 65.594 milhões para 70.448 milhões!

... em 2005

piorou o défice,
subiram os impostos,
aumentou a despesa pública,
subiu a dívida pública,
cresceu o desemprego,
caiu o produto,
subiu o défice externo,

... mas, pelos vistos, o drama já passou".

António Bagão Félix in "O Público" (link indisponível)

sábado, abril 01, 2006

Celebrar o Dia das Mentiras

Faz hoje precisamente oito anos, em 1 de Abril de 1998, que o físico americano Mark Boslough, agastado com as tentativas dos legisladores do Alabama, de circunscreverem o estudo da evolução nas escolas públicas desse estado, publicou um artigo na revista New Mexicans for Science and Reason, informando que a legislatura do estado do Alabama tinha votado favoravelmente a alteração do valor de pi de 3,14159, para o "valor bíblico" de 3.0. Só se descobriu a bricadeira quando a secretaria da legislatura do Alabama começou a receber milhares de cartas reclamando contra esta medida, que tinha começado rápidamente a circular na Internet.

Lembrei-me desta gracinha hoje ao ler o livro de Janer Cristaldo intitulado Como Ler Jornais (462 páginas e disponível gratuitamente na Internet como e-book), que conta, entre muitas outras, a fabulosa história de um jornalista da Folha de S. Paulo que ao dar uma notícia sobre gripe aviária informou os leitores que a mesma não iria afectar as populações urbanas, visto que era transmitida pelos perdigotos, algo que não existe nas cidades como todos bem sabem. A história é, apesar de tudo, absolutamente verídica, e revela o nível cultural de muitos jovens jornalistas. O livro conta muitas histórias interessantíssimas do interior do meio jornalístico que Janer Cristaldo frequentou anos a fio, e nem que seja só por isso, merece a pena ser lido.