segunda-feira, maio 08, 2006

Muitos sabem ensinar, mas poucos sabem educar

Lido na net. Numa escola de Nova Iorque, a directora principal estava preocupada com uma moda que estava a alastrar entre as suas jovens alunas: cada vez as mais novas usavam baton nos lábios, mas o pior é que davam beijos no espelho da casa de banho, que ficava conspurcado e com uma camada gordurosa de baton que tinha a maior dificuldade em sair. Todos os dias a mulher da limpeza passava horas a lavar o espelho.

A directora pensou no assunto e reuniu todas as alunas na casa de banho. Após uma ligeira palestra, pediu à mulher da limpeza que demonstrasse a dificuldade em lavar o espelho depois da porcaria que as alunas tinham feito com o baton.

Esta, conscenciosamente, pegou na esfregona, mergulhou-a numa das sanitas, e começou a lavar o espelho devagar.

A partir desse dia nunca mais houve beijos de baton no espelho da casa de banho.

Um sinal dos tempos

Ontem o telejornal da RTP punha uma questão sobre o instinto maternal: é este igual no homem e na mulher?

A pergunta é interessante e foi amplamente respondida pela ciência. A resposta na sua simplicidade é - não. O instinto maternal é na generalidade típico do sexo feminino, e em todas as espécies, (com alguma excepções em alguns peixes e insectos), e estará relacionado, pelo menos nos mamíferos e aves, com os níveis de testosterona no sexo masculino, e com o facto de o sexo masculino investir na quantidade de filhos versus qualidade da progenitura no sexo feminino, e logo no diferente investimento que cada um dos sexos faz na sua descendência.

Há duzentos anos atrás a resposta para esta pergunta teria sido procurada junto de um iman ou sacerdote, ou outro representante de uma qualquer Igreja, que à luz da leitura das Escrituras e do senso comum teria respondido o melhor que sabia.

Sinal dos tempos, hoje a resposta a esta pergunta foi procurada pelo jornalista da RTP junto de um... sociólogo.

E o sociólogo respondeu o esperado, e politicamente correcto: que o instinto maternal é igual no homem e na mulher, mas que se nota mais na mulher pela dominação que o homem exerce sobre o sexo feminino, e que a obriga a fazer trabalhos que deveriam ser partilhados.

O que há a ressaltar nesta notícia, não é a desfaçatez, ou, mais provávelmente, a ignorância do sociólogo ao pronunciar-se sobre um assunto que não é da sua competencia, porque os sociólogos desde há muito que se habituaram a pronunciar sobre muitos assuntos de que nada ou pouco sabem. O que há de ressaltar é a confirmação do que hoje chamamos de iliteracia jornalística, em que a resposta a uma pergunta de cariz eminentemente científico, é posta não a um cientista mas a um representante das ciências sociais. Porque não perguntar na próxima vez a opinião de um jornalista, se é tudo uma questão de opinião?

terça-feira, maio 02, 2006

O Brasil desfigurado

Pela sua dimensão geográfica e importancia económica, o Brasil sempre teve a pretensão de desempenhar um papel importante na América do Sul, e quiçá até no Atlantico Sul, como a sua política diplomática demonstrou no final do século XX no continente sul-americano e no cone sul de África. Recorde-se o trajecto do General Golbery do Couto e Silva, que nos anos setenta foi o iniciador dessa ambição diplomática.

O Brasil foi sempre o impulsionador e o motor das relações bilaterais que exerceu com os seus vizinhos, mantendo-se tradicionalmente à margem das convenções multilaterais internacionais de comércio ou outras, e o peso do Itamaraty sempre foi respeitado e temido em toda a América Latina.

É por isso surpreendente constactar que desde a emergência do fenómeno Lula (um indigente intelectual na suprema chefia do Estado), a importancia do Brasil se tem vindo a reduzir a uma dimensão paroquial, quase irrelevante, com consequências gravíssimas cujo alcance começamos apenas a vislumbrar.

Tudo começou com o apoio discreto que foi dado ao Presidente Kirchner da Argentina, quando este num re-assomo de populismo peronista quiz acabar com a influência das multinacionais estrangeiras no seu país, acusando essas empresas de provocarem o aumento do custo de vida, que a sua incapacidade governativa fomentava.

Vimos Lula viajar para a Venezuela e dar apoio explícito ao militar e demagogo Hugo Chavez, na sua política de "emancipação bolivariana" em relação às potencias estrangeiras, vulgo, Estados Unidos. Recorde-se que Hugo Chavez iniciou relações particularmente estreitas com o ditador das Caraíbas Fidel Castro, que reina há quarenta anos num campo de concentração de onde é impossível sair. Chavez recebeu há cerca de um ano o Presidente do Irão, e a Venezuela é um dos membros da OPEC, o cartel que controla os preços do petróleo.

Agora tocou-lhe a vez em casa. Evo Morales acaba de anunciar a nacionalização da industria petrolífera boliviana, e o maior prejudicado é a estatal brasileira Petrobrás. Quando se começa a brincar com o fogo é muito difícil apagar o incêndio que se lhe segue. Que a bofetada sirva de lição também a Zapatero (Repsol) e Chirac (Total), que seguiram pelo caminho do Lula e receberam com pompa e circunstância o insignificante político Morales.

Há vinte anos atrás nenhum líder sul-americano ousaria fazer o que Morales fez ao Brasil, pois temeria consequências retaliatórias comerciais que seriam inevitáveis. As potências regionais tem de mostrar musculo para se dar ao respeito, mas duvido que Lula que tem pés de barro, passe para além das palavras. Aguardo com curiosidade o que fará a oposição do governo brasileiro.

Entretanto mais alguns líderes de países limítrofes vão ficar com ideias. Para a América do Sul a situação está a ficar preta.

Morreu Jean François Revel

Morreu Jean François Revel, o pensador francês que a par de Raymond Aron, me abriu os olhos para as verdadeiras questões do mundo moderno, e me ensinou a reconhecer os charlatães, e vendedores de ideias em segunda mão, que são a generalidade dos filósofos e sociólogos franceses que povoaram as minhas leituras de juventude. Julgo que a descoberta dos seus escritos foi fundamental para o desenvolvimento de muitos homens da minha geração.

Para quem não se interessa pela política, O Monje e o Filósofo, livro que é fruto dos diálogos com seu filho Paul, jovem promissor engenheiro transformado em monje budista e colaborador do Dalai Lama, são um exemplo de diálogo discordante em total liberdade, que qualquer pai deveria ler.

Na àrea política, livros como L'obsession anti-americaine (ed. Plon, 2002, 301 páginas), A Grande Parada ou porque sobrevive a utopia socialista (ed. Notícias, 2000, 315 páginas), La Connaissance Inutile (ed. Bernard Grasset, 1988, 601 páginas), La Nouvelle Censure (ed. Robert Laffont, 1977, 349 páginas), A Tentação Totalitária (1976), A Revolução Imediata (ed. Bertrand, 1970, 323 páginas), tradução idiota do bem mais apropriado título original francês Ni Marx ni Jesus, foram cada um no seu tempo, marcos inesquecíveis e estímulantes de um pensamento livre cuja produção agora desaparece.

Tal como Sartre visitou Lisboa para ver in loco a Revolução de Abril, mas ao contrário deste, cedo se desiludiu. Sobre Sartre chegou a questionar: “Pourquoi l’écrivain français le plus représentatif des années 1950 et 1960 a-t-il haï la liberté, lui le philosophe de la liberté? Pourquoi ce penseur si intelligent approuva-t-il la nuit intellectuelle du communisme?
Pourquoi le fondateur de la fameuse revue Les Temps modernes ne comprit-il rien à son temps? Pourquoi ce raisonneur si subtil a-t-il été l’un des plus grandes dupes de notre siècle?
Au lieu d’escamoter ces réalités, mieux vaudrait tenter de les expliquer. Le problème n’est pas celui des aberrations d’un homme. C’est celui de toute un culture. Pour le résoudre, inspirons-nous de ce que Sartre a enseigné, surtout pas de ce qu’il a fait, de sa philosophie de la responsabilité, surtout pas de ses actes irresponsables, de sa morale de l’authenticité, surtout pas de son idéologie de la falsification.” A esquerda a que ele dizia pertencer, sentiu-se logo traída e chamou-lhe de reaccionário.

Um site com o seu nome presta-lhe a mais que merecida homenagem .

"Operação Primavera" da Treta

Este fim de semana prolongado fiz como centenas de milhares de sulistas, nortistas, espanhois e tantos outros, e desloquei-me ao Algarve. Aproveitei para mergulhar no Vapor das 19, um navio espanhol afundado em 1909 em Sagres a 19 braças de fundo, e daí o nome.

Fiz setecentos e setenta e oito quilómetros na auto-estrada do Sul, na N-125, em estradas secundárias de Sagres a Odemira, e finalmente na IP1 até Setúbal.

Em todo o percurso não vi uma única patrulha da GNR.

Mas hoje de manhã lá estava na TV um major todo aprumado a dizer que a "Operação Primavera" se tinha concluido, e o saldo era a duplicação dos mortos na estrada em relação com o ano passado.

Com operações só no papel (ou na TV) não admira que os acidentes aumentem. Porque é que os jornalistas continuam a dar cobertura a este embuste?

E para quando uma "Operação Todo-o-Ano", que dure de 1 de Janeiro a 31 de Dezembro de cada ano? E porque ninguém explica o que faz a GNR entre as diversas"operações" que tão bem publicita?